A influência das ideias de Piaget na ação docente
Com o passar dos anos, o mundo sofreu muitas transformações, dentre essas transformações, algumas se deram no âmbito educacional. Sendo assim, o processo de ensino e aprendizagem precisou se modificar ao longo dos anos. Entre tantos métodos e técnicas educacionais, a pesquisa que originou este artigo teve por objetivo investigar os impactos/influências para a formação de professores da Educação Infantil advindas do pensamento de Piaget (1896-1980), e consequentemente pela teoria Construtivista de ensino. O artigo traz questionamentos acerca do conhecimento da teoria piagetiana que os docentes possuem e quais os critérios que utiliza para aplicá-las em sala de aula. Sendo assim, contextualiza-se através de pesquisa bibliográfica o método construtivista e as ideias de Jean Piaget, e por fim a formação de professores relacionada ao construtivismo.
Palavras Chave: Construtivismo, Piaget, Formação Docente.
1. INTRODUÇÃO
Com o passar dos anos, o mundo sofreu muitas transformações, o que inclui o setor educacional, em especial no que diz respeito os fundamentos dos processos de ensino e aprendizagem. Antes, o método que hoje chamamos de “tradicional”, era o que vigorava nas instituições educacionais. Entretanto aos poucos foram surgindo novas perspectivas de compreender o fenômeno da aprendizagem, modificando a prática docente (o que pode ser visto no que é chamado de tendências pedagógicas)
A partir disso, delineamos como foco deste artigo é a abordagem chamada de “construtivista”, considerada como uma teoria que fornece uma visão diferenciada em relação as metodologias existentes, tendo em vista que concebe o conhecimento em seu processo de construção, sendo que este se dá através da interação do sujeito com os objetos do conhecimento. Assim, para que o sujeito aprenda, é necessário que ele mesmo reconstrua internamente os objetos do mundo, gerando conhecimento, diferentemente da pedagogia tradicional em que o aluno era mero ouvinte dos conteúdos repassado pelo professor.
Segundo Becker (2009, p. 2), o “construtivismo” se constitui pela “[...] interação do Indivíduo com o meio físico e social, com o simbolismo humano, com o mundo das relações sociais; e se constitui por força de sua ação e não por qualquer dotação prévia, na bagagem hereditária ou no meio [...]”.
A partir disso, podemos nos perguntar se o Construtivismo traz consigo a ideia de que é o próprio sujeito que deverá construir sua aprendizagem e desenvolver seu conhecimento, tal abordagem poderia ser considerada uma teoria fundamental a ser utilizada pelos docentes no processo de ensino aprendizagem?
Esse questionamento permeou uma pesquisa que buscou analisar a importância das teorias e ideias de Piaget para a formação docente. Procurou-se responder as seguintes questões: quais as influências das teorias de Piaget para a formação do professor, qual o conhecimento que o docente possui sobre essas teorias e quais os critérios que utiliza para aplicá-las?
Para se chegar a uma conclusão foi preciso inicialmente descrever as teorias de Jean Piaget e o Construtivismo, abordar a formação docente e a influência do Construtivismo para sua formação, além de, por fim, averiguar como os professores atuantes na educação infantil entendem e trabalham com essa teoria em sala de aula. Foram realizadas entrevistas com nove professores levando-se em consideração o tempo de formação de cada um, critério esse, estabelecido para se fazer uma comparação quanto às praticas exercidas pelos mesmos.
A razão da escolha pelo critério de tempo de formação docente se justificou na intenção de verificar, primordialmente, se os professores formados há certo tempo, conhecem e utilizam as ideias de Piaget em sala de aula e analisar se os professores recém formados que tiveram acesso a essa discussão teórica ao longo da formação inicial, fazem uso da mesma em sua prática.
Antes de iniciar um estudo sobre as ideias de Piaget e o Construtivismo, é de fundamental importância que se deixe claro que o Construtivismo não pode ser entendido como um método a ser aplicado em sala de aula, mas deve ser compreendido como uma teoria que permite uma nova interpretação de tendências já existentes, que fogem da ideia central de que o ensinar já está pronto, o que nos leva a necessidade de invenção e criação do sujeito que aprende a partir da sua realidade.
A partir de tal perspectiva, como o sujeito irá construir seu conhecimento? Para que o sujeito possa se desenvolver e realizar tal processo é necessário que ele atue espontaneamente sobre o objeto do conhecimento (o que pode acontecer a partir de determinados estímulos sociais, como visto na escola), no qual “[...] retira (abstração) deste meio o que é do seu interesse. Em seguida, reconstrói (reflexão) o que já tem, por força dos elementos novos que acaba de abstrair” (BECKER, 2009, p. 4).
Para entender melhor essa discussão se faz necessário primeiramente introduzir brevemente alguns conceitos da teoria de Piaget, como por exemplo, a inteligência. Para o epistemólogo suíço “[...] inteligência é uma adaptação [...]” (PIAGET, 1971, p.15). De acordo com Pádua (2009, p. 23), “[...] os processos da inteligência têm como finalidade a sobrevivência do sujeito no meio em que está inserido, modificando-o se necessário for ou se modificando para melhor se adaptar a esse meio.” Ou seja, o sujeito adquire conhecimento a partir do momento que se adapta às condições impostas pelo meio, que se configuram internamente como desequilíbrio.
Não se pode deixar de lembrar que toda ação realizada pela criança, ou mesmo pelo adulto, corresponde a uma necessidade. De acordo com Piaget (1969, p. 15), toda necessidade tende:
1º, a incorporar as coisas e pessoas à atividade própria do sujeito, isto é, “assinalar” o mundo exterior às estruturas já construídas, e 2º, a reajustar estas ultimas em função das transformações ocorridas, ou seja, “acomodá-las”, aos objetos externos.
É diante dessas necessidades, que se inicia o processo de assimilação, acomodação e equilibração. “A assimilação permite a incorporação da informação aos esquemas que o indivíduo já possui” (SARAVALI, 2004, p. 25), ou seja, quando o indivíduo entra em contato com o objeto do conhecimento ele encontra uma nova informação, e assimila essa forma de atuar sobre o objeto. Já “[...] a acomodação consiste na modificação dos esquemas em função das resistências que o objeto a ser assimilado impõe ao sujeito” (SARAVALI, 2004, p 25). Para que essa nova informação assimilada pelo individuo gerar conhecimento, é necessário que ele a acomode em suas estruturas mentais enquanto novos dados e novas informações são adquiridas.
Esses processos de assimilação e acomodação, não acontecem sozinhos. Quando o sujeito entra em contato com o objeto de conhecimento, e ao fazer as suas assimilações encontra “[...] certas resistências desconhecidas pelo mesmo, assim o sujeito precisa modificar suas estruturas mentais e acomodá-las”. (PÁDUA, 2009, p. 25). É o que chamamos de processo de equilibração.
Ao findar esse processo, surge um novo conceito, designado de adaptação, “[...] equilíbrio entre o organismo e o meio” (PIAGET, 1975, p. 16), ou seja, ao acomodar a novas informações adquiridas, a criança se adaptará ao meio, e retornará novamente ao equilíbrio.
Em síntese, basicamente o processo de aquisição do conhecimento está pautado em desequilíbrio, processo que acontece quando o sujeito entra em contato com o objeto do conhecimento, e encontra, a partir desse contato, certas dificuldades de assimilação de suas características. Ao realizar uma ação sobre o mesmo, assimila novas informações do objeto e as acomoda, voltando assim a um estado de equilíbrio, que podemos chamar de “adaptação”.
Portanto, para Piaget (1969, p. 11), desenvolvimento, “[...] é uma equilibração progressiva, uma passagem contínua de um estado de menor equilíbrio para um estado de equilíbrio superior”. Por isso, a inteligência não deve ser vista como algo pronto ou preparado, mas deve ser entendida como algo que irá se construir ao longo da relação do indivíduo com o meio.
Por assim dizer, na concepção piagetiana, “inteligência” nada mais é que o resultado dos processos de assimilação, acomodação e equilibração. Diante destas teorias, Piaget também se questionou a respeito de como o indivíduo passa de um estado de menor conhecimento, a um estado de maior conhecimento. Para isso estabeleceu quatro estágios de desenvolvimento que estão relacionados a estruturação do conhecimento. Para ele “[...] cada estagio constitui então, pelas estruturas que o definem, uma forma particular de equilíbrio, efetuando-se a evolução mental no sentido de uma equilibração sempre mais completa” (PIAGET, 1969, p. 14).
O primeiro estágio tem início desde o nascimento da criança até aproximadamente dois anos de idade, e recebe o nome de “sensório motor”. Este momento diz respeito a “[...] inteligência sensório motora, um pensamento em atos, que não pode atuar a não ser sobre o imediatamente presente, porque carece de instrumentos de representação” (FERREIRO, 2001, p. 120).
Segundo Piaget (1969, p. 16), “o recém-nascido traz tudo para si, ou mais precisamente, para o seu corpo.” É através desse movimento que acontece o conhecimento de mundo pela criança, pelo simples movimento da criança, ao avistar um objeto, pegá-lo, e colocá-lo na boca para conhecê-lo e assimilá-lo. Assim, podemos dizer que o conhecimento tem como suporte os órgãos do sentido articulados com a ação osteomuscular.
O segundo período, denominado de período “pré-operatório” é marcado pelo aparecimento da linguagem, e compreende as idades de 2 a 7 anos de idade. Para Piaget (1969, p. 23), “[...] a criança torna-se, graças à linguagem, capaz de reconstituir suas ações passadas sob forma de narrativas, e de antecipar suas ações futuras pela representação verbal.” É a partir do desenvolvimento da linguagem que a criança estabelecerá relações mais complexas com os demais indivíduos e seu pensamento propriamente dito.
A criança do período pré-operacional pode ser denominada como egocêntrica e seu pensamento está intimamente articulado com o aspecto físico do objeto. Dizer “egocêntrica”, segundo Pádua (2009, p. 31) “[...] significa que a criança tem dificuldades de perceber o ponto de vista do outro”. Em outras palavras, ela percebe o ponto de vista do outro a partir do seu próprio ponto de vista. Quanto ao segundo elemento – a aparência física – “[...] a criança não consegue raciocinar sobre a relação entre as dimensões – altura e largura, densidade e escassez” (GARDNER; KORNHABER; WAKE, 1998, p. 122). Assim, por exemplo, citando um experimento piagetiano, quando diante de uma cena com um copo mais alto e estreito, e um copo mais baixo e largo, ela define o copo mais alto como o que comportará maior quantidade de líquido, independente se os dois possuírem a mesma estiverem comportando a mesma quantidade.
Ao atingir os sete anos de idade, a criança passa a um estágio denominado de “operatório concreto”, “[...] caracterizado pelo início das operações lógicas que são marcadas pelo pensamento reversível, ou seja, a capacidade de admitir a possibilidade de se efetuar a operação contrária” (GARCIA, 1997, p. 21). Sua inteligência nesse período, além de se iniciar a construção lógica, permitirá a coordenação do seu próprio ponto de vista (PIAGET, 1969).
No começo dos 12 anos, ao entrar na adolescência, dá-se início a um novo estágio, as “operações formais” na qual o sujeito do conhecimento, “[...] não se baseia apenas em objetos ou realidades observáveis, mas também em hipóteses” (FERRACIOLI, 1999, p. 184), o que levará a criança a uma grande facilidade de pensar sobre as ideias e conceitos, adquirindo autonomia no pensar, no falar e ao expor suas ideias sobre normas e regras, tanto impostas pela sociedade, quanto aquelas impostas por seus pais.
De acordo com Piaget (1969, p. 63), é após esse período que as “[...] operações lógicas começam a ser transpostas do plano da manipulação concreta para o das ideias, expressas em linguagem qualquer” (palavras, símbolos, etc.). É por este motivo que se dá a passagem das operações concretas, para as formais, chamadas de “hipotético-dedutivo”. Dessa forma, em frente a um problema a ser resolvido, não será necessária a elaboração de algo concreto para sua resolução, mas, tudo será feito através de hipóteses.
Podemos entender, a partir das análises do autor, o desenvolvimento mental é uma construção contínua, e a partir dessa ideia, e dos conceitos de assimilação, acomodação e equilibração, e dos estágios do desenvolvimento percorrido pelo indivíduo, é possível notar como o conhecimento é adquirido pela criança chegando-se finalmente a elaboração do que chamamos de “Construtivismo”, no qual o conhecimento é tomado como processo de construção.
A abordagem construtivista, “[...] surge das críticas que Piaget elabora às teorias racionalistas e empiristas sobre o conhecimento.” Assim o conhecimento “[...] não esta pré-determinado nem no interior do sujeito, nem no mundo externo, mas é construído na relação entre o sujeito e os objetos do mundo externo” (SOUZA, 2008, p. 64).
De tal modo, o construtivismo deve “[...] incentivar a criatividade do aluno, o estímulo que a escola passou a propiciar no sentido de dar liberdade ao aprendiz de uma maior participação no processo escolar” sendo possível ao aluno argumentar, sugerir e socializar os conhecimentos (COELHO; MIRANDA, 2007, s/p).
Segundo Souza (2008), os leitores de Piaget se apropriaram de suas ideias, e consequentemente da teoria construtivista para que pudessem “[...] encontrar soluções para os problemas de aprendizagem e desenvolvimento da criança” e por decorrência disso compreenderam “[...] o enorme potencial que esta teoria poderia conter para encaminhar novas soluções para antigos problemas da área da educação” (SOUZA, 2008, p. 65).
Ao aderir a essa concepção teórica em sua formação, enquanto futuros professores, e colocar em prática o que lhe foi ensinado, o trabalho é pautado em uma perspectiva na qual os alunos agem sobre a realidade. O Construtivismo traz novas possibilidades técnicas e maneiras de trabalhar, e consequentemente novos resultados, diferente daqueles trazidos por outras tendências, como por exemplo, a educação tradicional. Isso pode ser visto nas palavras do próprio Piaget, citado por Vasconcelos (1996, p. 59), que “[...] de fato, a educação tradicional sempre tratou a criança como um pequeno adulto, um ser que raciocina e pensa como nós, mas desprovido simplesmente de conhecimentos e experiência”.
Também é importante ressaltar, como forma de aviso ao professor, como dito por Solé e Coll (2006, p. 10), que o “Construtivismo não é um livro de receitas, mas um conjunto articulado de princípios em que é possível diagnosticar, julgar e tomar decisões fundamentais sobre o ensino”.
É importante esclarecer que ainda que exista a ideia de que o construtivismo está pautado no trabalho espontâneo, com base no interesse e na necessidade do próprio aluno, isto não significa “[...] que as crianças façam tudo o que queiram, ela exige que eles queiram tudo o que façam; que ajam, não que sejam manipulados” (CLAPARÉDE apud PIAGET, 1985, p. 155).
Lima (apud FACCI, 2004, p. 109) afirma que a escola piagetiana, e consequentemente a teoria construtivista é “[...] altamente dirigida – no sentido de que dirigir significa propor situações-problema -; o que não é dirigida é a maneira como a criança, em grupo, tenta resolver o problema proposto”.
Assim, é essencial reiterar que a concepção construtivista de ensino, e por conseqüência o professor construtivista, não deve ter como intenção, ensinar, pois onde houver um professor ensinando não haverá uma escola piagetiana. Conforme aponta o autor citado acima, “a função do professor é, portanto, provocar desequilíbrios (o que em termos corriqueiros significa fazer desafios)” (LIMA, 1980, p. 131).
Caberia então ao professor construtivista então, apenas uma intervenção: criar ambientes favoráveis, encorajando os alunos a pensarem e explorarem, e também, abrir a esse educando um caminho de verificações, investigações e descobertas, descobertas essas, realizadas por sua própria vontade e necessidade, respondendo às suas duvidas e inquietações, passando assim aos poucos a construir seus próprios conhecimentos, atingindo seu crescimento individual.
A partir do que foi mapeado até este momento, foi realizada uma pesquisa junto aos educadores de forma a mapear de que forma a teoria piagetiana faz parte da concepção pedagógica que acreditam trabalhar em sala de aula.
2. AS IDEIAS DE PIAGET E SUAS INFLUÊNCIAS SOBRE O TRABALHO DO PROFESSORCom o intuito de responder aos questionamentos acima levantados foi realizado uma pesquisa de campo com entrevistas semi-estruturadas, na qual foram entrevistados nove professores da educação infantil, os quais foram questionados a respeito dos seus conhecimentos sobre as ideias de Piaget e se os mesmos as trabalham em sala de aula.
O critério de escolha dos entrevistados foi o tempo de formação dos docentes, e a razão para essa escolha se justifica na intenção de verificar, primordialmente, se os professores formados há certo tempo, conhecem e utilizam as ideias de Piaget em sala de aula, sob a hipótese de não terem tido acesso em sua formação às ideias do autor, e, por outro lado, analisar se os professores recém formados que tiveram acesso a essa discussão teórica ao longo da formação inicial, fazem uso dela. Sendo assim foram entrevistados três professores que possuem dez anos de formação, três professores que possuem cinco anos de formação e três professores que acabaram de se formar.
As duas primeiras perguntas estão conectadas. A primeira questiona os professores, se os mesmos conhecem as idéias de Piaget, e a segunda questão procura investigar quais seriam esses conceitos. Todos os professores afirmam que conhecem ou já ouviram falar do autor, a partir do que chamaram de “teoria do desenvolvimento”, citando por vezes as fases e as idades correspondentes. Somente um dos professores, que acabou de se formar, soube citar os estágios, as idades e também conceituar simplificadamente algumas características das fases. De certa forma, os conceitos apresentados, ainda que de forma simplista, estão corretos. Os professores que citam os estágios nomeiam e definem as idades de maneira correta, e os conceitos de assimilação e acomodação, foram explicados de acordo com a teoria piagetiana.
Em relação à aplicabilidade das ideias de Piaget em sala de aula, certa coerência por parte dos professores ao trabalharem as ideias que conhecem, com seus alunos. Esse trabalho acontece, quando o professor respeita o processo de maturação do aluno, intervindo se necessário for, e só dá um encaminhamento no conteúdo quando observa que houve a compreensão significativa por parte da criança. Como observado por um dos professores que acabou de se formar, “[...] é importante acompanhar o desenvolvimento do aluno através dos processos de assimilação e acomodação, podendo assim, pelos processos de acomodação, aumentar o grau de dificuldade do conteúdo”.
Em relação a respeitar o processo de maturação da criança, o professor que a cita tem como base as fases do desenvolvimento de Piaget que em outras palavras quer dizer que essas fases “[...] equivalem a certos patamares da construção da estrutura cognitiva” (SILVA, 2009, p. 72). Assim sendo, o professor precisa respeitá-los até que a sua construção da estrutura cognitiva esteja completa.
Os professores que a aplicam, e não encontram dificuldades para trabalhá-la em sala de aula, mencionam que as ideias de Piaget apenas vêem facilitar seus trabalhos, pois, quando o aluno é encarado como centro no processo de ensino e aprendizagem, ele mesmo constrói seus conhecimentos, com a sua interação com os objetos existentes no meio, concretizando sua aprendizagem. E também ao entender as fases do desenvolvimento, sua observação em sala de aula será significativa, sabendo a hora de intervir e mediar o processo de ensino e aprendizagem.
Em relação aos conhecimentos sobre as teorias de Piaget, e sua aplicabilidade em sala de aula, até os que não fazem uso dela, acreditam que as teorias de Piaget facilitam e colaboram com o trabalho do professor em suas observações, suas posturas, podendo proporcionar um olhar mais critico sobre ela, e também, podendo de forma significativa entender o universo infantil.
No inicio da pesquisa acreditava-se que os professores formados a mais de dez anos não teriam tido o mesmo acesso as teorias de Piaget que os professores formados a cinco anos e/ou os recém formados. Porém, diante da entrevista realizada, essa hipótese mostra-se falsa.
Levanta-se a possibilidade de que em sua formação inicial, os professores, tanto os que possuem dez anos de formação como os de cinco e os recém formados, não tenham tido acesso às teorias e ideias de Piaget concretamente, com todas as ideias e conceitos, mas, por vezes, suas motivações profissionais possam tê-los levado a esses conceitos, simplesmente por vontade de conhecê-los.
Em relação aos conhecimentos que os professores possuem sobre Piaget e sua teoria percebe-se que em sua maioria este pode ser considerado um conhecimento simplificado, com nomenclaturas e conceitos simplistas sobre essas teorias, deixando por vezes de citar alguns conceitos de fundamental importância nas obras de Piaget, e que também poderiam ser essenciais para uma formação mais solida dos professores, como os conceitos de Inteligência e os próprios acontecimentos que ocorrem em cada fase do desenvolvimento da criança, muitas vezes citados, mas pouco comentados em profundidade.
Em relação à aplicação das ideias de Piaget na educação, Emília Ferreiro se questiona sobre esse processo e a possibilidade de aplicá-las. Esse questionamento de Ferreiro (2001, p. 36) se baseia como sendo as ideias de Piaget uma “teoria geral de processos de aquisição de conhecimento, desenvolvida em tais domínios, mas potencialmente apta para dar conta dos processos de construção de outras noções em outros domínios.” Ou seja, Piaget formulou algumas teorias específicas inclinadas em determinados objetivos, mas por vezes, suas teorias podem ser usadas para dar conta de outros processos de aquisição de conhecimento. Por isso o fato de se aplicar Piaget nas salas de aula, e sua grande importância para a formação e ação do professor.
A partir dessa análise, pontuamos que talvez a palavra certa não seja “aplicar”. Embora Piaget tenha criado ideias e teorias para responder a questionamentos como “[...] de que forma se dá a passagem de um estado de menor conhecimento para um estado de maior conhecimento”, e pesquisado isso através de crianças e seus comportamentos, é claro, que ao se tomar consciência da importância dessas pesquisas para a educação, aos poucos elas seriam transpostas para a sala de aula. Para evitar possíveis dualidades, o termo “aplicar a teoria de Piaget” deve ser substituído por “testar suas ideias e hipóteses em sala de aula”, configurando assim, a proposta piagetiana enquanto método de investigação e não, enquanto método pedagógico.
Então em relação a “testar suas ideias em sala de aula” é possível dizer que os professores o fazem. Entretanto, por vezes, eles se esquecem de se preocupar com a construção do conhecimento, tanto discutido por Piaget.
São citados conceitos dos processos de assimilação e acomodação do conhecimento, e em quase todas às vezes são citadas as fases do desenvolvimento da criança, porém, em poucos momentos se nota a real preocupação por parte dos professores de fazer com que a criança construa e desenvolva seu conhecimento. Saber conceituar as ideias de Piaget, muitas vezes pode não significar muita coisa quando o seu verdadeiro sentido não é compreendido.
3. CONSIDERAÇÕES FINAISAo conhecer as ideias de Piaget, é importante não deixar de comentar sua postura quanto à aplicação em sala de aula. O mesmo se dá à concepção construtivista, que diversas vezes foram lembrados que não se deve tratá-la como as tendências ou métodos de ensino já existentes, ou seja, como regras e maneiras de trabalhá-la. Ao ter como base esse conhecimento, fica claro que as ideias de Piaget e a concepção construtivista são levadas à educação como base para as praticas dos professores.
Entendido esse ponto, o professor que conhece as ideias de Piaget, - também na concepção construtivista - e se baseia nelas para um melhor e significativo trabalho em sala de aula, tem no processo pedagógico por ela potencializado, um aluno que vai a busca de seus conhecimentos, e neste caminho o professor deve questioná-los e fazer com que os mesmos reflitam sobre esses conhecimentos no sentido de intervir, tendo por fim, resultados satisfatórios quanto à aprendizagem do aluno (pelo fato do mesmo tê-lo construído no decorrer desse processo).
A ideia central dessa pesquisa se baseia na questão da possível influencia das ideias de Piaget na formação de um professor. Através da pesquisa bibliográfica, apontando os conceitos das ideias de Piaget, e a assimilação dessas ideias em sala de aula, foi possível verificar que o professor que a utiliza de maneira integra, não terá grandes problemas com o seu processo de ensino e aprendizagem, beneficiando o desenvolvimento da criança.
Também foi possível constatar que, mesmo com poucos conhecimentos sobre os conceitos de Piaget, e também trabalhando-os em sala de aula de maneira simplificada, os professores recebem uma significativa influência em sua prática dessa teoria e que os conhecimentos sobre essa ideias independem do tempo de formação dos professores. Levantou-se que o trabalho pedagógico com os conhecimentos relativos à Piaget, depende do interesse e da sua procura por eles. Sendo assim, o professor deve por seus próprios esforços, buscar conhecimentos e diversificados métodos para um expressivo desempenho em seu trabalho.
Embora a analise não possa ser feita de acordo com o que foi citado acima (por tempo de formação), é importante salientar que por vezes as teorias de Piaget e o Construtivismo não foram trabalhados de forma concreta e significativa na formação inicial desses professores.
Diante dessa observação, é necessário salientar a proposta de que o trabalho de Piaget apareça de forma mais expressiva nos currículos dos cursos de formação de professores (independente do nível de formação), para que os futuros docentes finalizem esse processo inicial de forma que dominem as principais ideias propostas por Piaget, e as possíveis posturas a serem tomadas em seu trabalho ao assimilá-las para a prática em sala de aula. Ou então, se isso não ocorrer, que o próprio docente formado procure aprofundar seus conhecimentos a respeito dessas ideias e da postura construtivista através da formação continuada, que dará o subsidio necessário ao professor para a assimilação e atuação em sala de aula de forma coerente e significativa.
Com o passar dos anos, o mundo sofreu muitas transformações, o que inclui o setor educacional, em especial no que diz respeito os fundamentos dos processos de ensino e aprendizagem. Antes, o método que hoje chamamos de “tradicional”, era o que vigorava nas instituições educacionais. Entretanto aos poucos foram surgindo novas perspectivas de compreender o fenômeno da aprendizagem, modificando a prática docente (o que pode ser visto no que é chamado de tendências pedagógicas)
A partir disso, delineamos como foco deste artigo é a abordagem chamada de “construtivista”, considerada como uma teoria que fornece uma visão diferenciada em relação as metodologias existentes, tendo em vista que concebe o conhecimento em seu processo de construção, sendo que este se dá através da interação do sujeito com os objetos do conhecimento. Assim, para que o sujeito aprenda, é necessário que ele mesmo reconstrua internamente os objetos do mundo, gerando conhecimento, diferentemente da pedagogia tradicional em que o aluno era mero ouvinte dos conteúdos repassado pelo professor.
Segundo Becker (2009, p. 2), o “construtivismo” se constitui pela “[...] interação do Indivíduo com o meio físico e social, com o simbolismo humano, com o mundo das relações sociais; e se constitui por força de sua ação e não por qualquer dotação prévia, na bagagem hereditária ou no meio [...]”.
A partir disso, podemos nos perguntar se o Construtivismo traz consigo a ideia de que é o próprio sujeito que deverá construir sua aprendizagem e desenvolver seu conhecimento, tal abordagem poderia ser considerada uma teoria fundamental a ser utilizada pelos docentes no processo de ensino aprendizagem?
Esse questionamento permeou uma pesquisa que buscou analisar a importância das teorias e ideias de Piaget para a formação docente. Procurou-se responder as seguintes questões: quais as influências das teorias de Piaget para a formação do professor, qual o conhecimento que o docente possui sobre essas teorias e quais os critérios que utiliza para aplicá-las?
Para se chegar a uma conclusão foi preciso inicialmente descrever as teorias de Jean Piaget e o Construtivismo, abordar a formação docente e a influência do Construtivismo para sua formação, além de, por fim, averiguar como os professores atuantes na educação infantil entendem e trabalham com essa teoria em sala de aula. Foram realizadas entrevistas com nove professores levando-se em consideração o tempo de formação de cada um, critério esse, estabelecido para se fazer uma comparação quanto às praticas exercidas pelos mesmos.
A razão da escolha pelo critério de tempo de formação docente se justificou na intenção de verificar, primordialmente, se os professores formados há certo tempo, conhecem e utilizam as ideias de Piaget em sala de aula e analisar se os professores recém formados que tiveram acesso a essa discussão teórica ao longo da formação inicial, fazem uso da mesma em sua prática.
Antes de iniciar um estudo sobre as ideias de Piaget e o Construtivismo, é de fundamental importância que se deixe claro que o Construtivismo não pode ser entendido como um método a ser aplicado em sala de aula, mas deve ser compreendido como uma teoria que permite uma nova interpretação de tendências já existentes, que fogem da ideia central de que o ensinar já está pronto, o que nos leva a necessidade de invenção e criação do sujeito que aprende a partir da sua realidade.
A partir de tal perspectiva, como o sujeito irá construir seu conhecimento? Para que o sujeito possa se desenvolver e realizar tal processo é necessário que ele atue espontaneamente sobre o objeto do conhecimento (o que pode acontecer a partir de determinados estímulos sociais, como visto na escola), no qual “[...] retira (abstração) deste meio o que é do seu interesse. Em seguida, reconstrói (reflexão) o que já tem, por força dos elementos novos que acaba de abstrair” (BECKER, 2009, p. 4).
Para entender melhor essa discussão se faz necessário primeiramente introduzir brevemente alguns conceitos da teoria de Piaget, como por exemplo, a inteligência. Para o epistemólogo suíço “[...] inteligência é uma adaptação [...]” (PIAGET, 1971, p.15). De acordo com Pádua (2009, p. 23), “[...] os processos da inteligência têm como finalidade a sobrevivência do sujeito no meio em que está inserido, modificando-o se necessário for ou se modificando para melhor se adaptar a esse meio.” Ou seja, o sujeito adquire conhecimento a partir do momento que se adapta às condições impostas pelo meio, que se configuram internamente como desequilíbrio.
Não se pode deixar de lembrar que toda ação realizada pela criança, ou mesmo pelo adulto, corresponde a uma necessidade. De acordo com Piaget (1969, p. 15), toda necessidade tende:
1º, a incorporar as coisas e pessoas à atividade própria do sujeito, isto é, “assinalar” o mundo exterior às estruturas já construídas, e 2º, a reajustar estas ultimas em função das transformações ocorridas, ou seja, “acomodá-las”, aos objetos externos.
É diante dessas necessidades, que se inicia o processo de assimilação, acomodação e equilibração. “A assimilação permite a incorporação da informação aos esquemas que o indivíduo já possui” (SARAVALI, 2004, p. 25), ou seja, quando o indivíduo entra em contato com o objeto do conhecimento ele encontra uma nova informação, e assimila essa forma de atuar sobre o objeto. Já “[...] a acomodação consiste na modificação dos esquemas em função das resistências que o objeto a ser assimilado impõe ao sujeito” (SARAVALI, 2004, p 25). Para que essa nova informação assimilada pelo individuo gerar conhecimento, é necessário que ele a acomode em suas estruturas mentais enquanto novos dados e novas informações são adquiridas.
Esses processos de assimilação e acomodação, não acontecem sozinhos. Quando o sujeito entra em contato com o objeto de conhecimento, e ao fazer as suas assimilações encontra “[...] certas resistências desconhecidas pelo mesmo, assim o sujeito precisa modificar suas estruturas mentais e acomodá-las”. (PÁDUA, 2009, p. 25). É o que chamamos de processo de equilibração.
Ao findar esse processo, surge um novo conceito, designado de adaptação, “[...] equilíbrio entre o organismo e o meio” (PIAGET, 1975, p. 16), ou seja, ao acomodar a novas informações adquiridas, a criança se adaptará ao meio, e retornará novamente ao equilíbrio.
Em síntese, basicamente o processo de aquisição do conhecimento está pautado em desequilíbrio, processo que acontece quando o sujeito entra em contato com o objeto do conhecimento, e encontra, a partir desse contato, certas dificuldades de assimilação de suas características. Ao realizar uma ação sobre o mesmo, assimila novas informações do objeto e as acomoda, voltando assim a um estado de equilíbrio, que podemos chamar de “adaptação”.
Portanto, para Piaget (1969, p. 11), desenvolvimento, “[...] é uma equilibração progressiva, uma passagem contínua de um estado de menor equilíbrio para um estado de equilíbrio superior”. Por isso, a inteligência não deve ser vista como algo pronto ou preparado, mas deve ser entendida como algo que irá se construir ao longo da relação do indivíduo com o meio.
Por assim dizer, na concepção piagetiana, “inteligência” nada mais é que o resultado dos processos de assimilação, acomodação e equilibração. Diante destas teorias, Piaget também se questionou a respeito de como o indivíduo passa de um estado de menor conhecimento, a um estado de maior conhecimento. Para isso estabeleceu quatro estágios de desenvolvimento que estão relacionados a estruturação do conhecimento. Para ele “[...] cada estagio constitui então, pelas estruturas que o definem, uma forma particular de equilíbrio, efetuando-se a evolução mental no sentido de uma equilibração sempre mais completa” (PIAGET, 1969, p. 14).
O primeiro estágio tem início desde o nascimento da criança até aproximadamente dois anos de idade, e recebe o nome de “sensório motor”. Este momento diz respeito a “[...] inteligência sensório motora, um pensamento em atos, que não pode atuar a não ser sobre o imediatamente presente, porque carece de instrumentos de representação” (FERREIRO, 2001, p. 120).
Segundo Piaget (1969, p. 16), “o recém-nascido traz tudo para si, ou mais precisamente, para o seu corpo.” É através desse movimento que acontece o conhecimento de mundo pela criança, pelo simples movimento da criança, ao avistar um objeto, pegá-lo, e colocá-lo na boca para conhecê-lo e assimilá-lo. Assim, podemos dizer que o conhecimento tem como suporte os órgãos do sentido articulados com a ação osteomuscular.
O segundo período, denominado de período “pré-operatório” é marcado pelo aparecimento da linguagem, e compreende as idades de 2 a 7 anos de idade. Para Piaget (1969, p. 23), “[...] a criança torna-se, graças à linguagem, capaz de reconstituir suas ações passadas sob forma de narrativas, e de antecipar suas ações futuras pela representação verbal.” É a partir do desenvolvimento da linguagem que a criança estabelecerá relações mais complexas com os demais indivíduos e seu pensamento propriamente dito.
A criança do período pré-operacional pode ser denominada como egocêntrica e seu pensamento está intimamente articulado com o aspecto físico do objeto. Dizer “egocêntrica”, segundo Pádua (2009, p. 31) “[...] significa que a criança tem dificuldades de perceber o ponto de vista do outro”. Em outras palavras, ela percebe o ponto de vista do outro a partir do seu próprio ponto de vista. Quanto ao segundo elemento – a aparência física – “[...] a criança não consegue raciocinar sobre a relação entre as dimensões – altura e largura, densidade e escassez” (GARDNER; KORNHABER; WAKE, 1998, p. 122). Assim, por exemplo, citando um experimento piagetiano, quando diante de uma cena com um copo mais alto e estreito, e um copo mais baixo e largo, ela define o copo mais alto como o que comportará maior quantidade de líquido, independente se os dois possuírem a mesma estiverem comportando a mesma quantidade.
Ao atingir os sete anos de idade, a criança passa a um estágio denominado de “operatório concreto”, “[...] caracterizado pelo início das operações lógicas que são marcadas pelo pensamento reversível, ou seja, a capacidade de admitir a possibilidade de se efetuar a operação contrária” (GARCIA, 1997, p. 21). Sua inteligência nesse período, além de se iniciar a construção lógica, permitirá a coordenação do seu próprio ponto de vista (PIAGET, 1969).
No começo dos 12 anos, ao entrar na adolescência, dá-se início a um novo estágio, as “operações formais” na qual o sujeito do conhecimento, “[...] não se baseia apenas em objetos ou realidades observáveis, mas também em hipóteses” (FERRACIOLI, 1999, p. 184), o que levará a criança a uma grande facilidade de pensar sobre as ideias e conceitos, adquirindo autonomia no pensar, no falar e ao expor suas ideias sobre normas e regras, tanto impostas pela sociedade, quanto aquelas impostas por seus pais.
De acordo com Piaget (1969, p. 63), é após esse período que as “[...] operações lógicas começam a ser transpostas do plano da manipulação concreta para o das ideias, expressas em linguagem qualquer” (palavras, símbolos, etc.). É por este motivo que se dá a passagem das operações concretas, para as formais, chamadas de “hipotético-dedutivo”. Dessa forma, em frente a um problema a ser resolvido, não será necessária a elaboração de algo concreto para sua resolução, mas, tudo será feito através de hipóteses.
Podemos entender, a partir das análises do autor, o desenvolvimento mental é uma construção contínua, e a partir dessa ideia, e dos conceitos de assimilação, acomodação e equilibração, e dos estágios do desenvolvimento percorrido pelo indivíduo, é possível notar como o conhecimento é adquirido pela criança chegando-se finalmente a elaboração do que chamamos de “Construtivismo”, no qual o conhecimento é tomado como processo de construção.
A abordagem construtivista, “[...] surge das críticas que Piaget elabora às teorias racionalistas e empiristas sobre o conhecimento.” Assim o conhecimento “[...] não esta pré-determinado nem no interior do sujeito, nem no mundo externo, mas é construído na relação entre o sujeito e os objetos do mundo externo” (SOUZA, 2008, p. 64).
De tal modo, o construtivismo deve “[...] incentivar a criatividade do aluno, o estímulo que a escola passou a propiciar no sentido de dar liberdade ao aprendiz de uma maior participação no processo escolar” sendo possível ao aluno argumentar, sugerir e socializar os conhecimentos (COELHO; MIRANDA, 2007, s/p).
Segundo Souza (2008), os leitores de Piaget se apropriaram de suas ideias, e consequentemente da teoria construtivista para que pudessem “[...] encontrar soluções para os problemas de aprendizagem e desenvolvimento da criança” e por decorrência disso compreenderam “[...] o enorme potencial que esta teoria poderia conter para encaminhar novas soluções para antigos problemas da área da educação” (SOUZA, 2008, p. 65).
Ao aderir a essa concepção teórica em sua formação, enquanto futuros professores, e colocar em prática o que lhe foi ensinado, o trabalho é pautado em uma perspectiva na qual os alunos agem sobre a realidade. O Construtivismo traz novas possibilidades técnicas e maneiras de trabalhar, e consequentemente novos resultados, diferente daqueles trazidos por outras tendências, como por exemplo, a educação tradicional. Isso pode ser visto nas palavras do próprio Piaget, citado por Vasconcelos (1996, p. 59), que “[...] de fato, a educação tradicional sempre tratou a criança como um pequeno adulto, um ser que raciocina e pensa como nós, mas desprovido simplesmente de conhecimentos e experiência”.
Também é importante ressaltar, como forma de aviso ao professor, como dito por Solé e Coll (2006, p. 10), que o “Construtivismo não é um livro de receitas, mas um conjunto articulado de princípios em que é possível diagnosticar, julgar e tomar decisões fundamentais sobre o ensino”.
É importante esclarecer que ainda que exista a ideia de que o construtivismo está pautado no trabalho espontâneo, com base no interesse e na necessidade do próprio aluno, isto não significa “[...] que as crianças façam tudo o que queiram, ela exige que eles queiram tudo o que façam; que ajam, não que sejam manipulados” (CLAPARÉDE apud PIAGET, 1985, p. 155).
Lima (apud FACCI, 2004, p. 109) afirma que a escola piagetiana, e consequentemente a teoria construtivista é “[...] altamente dirigida – no sentido de que dirigir significa propor situações-problema -; o que não é dirigida é a maneira como a criança, em grupo, tenta resolver o problema proposto”.
Assim, é essencial reiterar que a concepção construtivista de ensino, e por conseqüência o professor construtivista, não deve ter como intenção, ensinar, pois onde houver um professor ensinando não haverá uma escola piagetiana. Conforme aponta o autor citado acima, “a função do professor é, portanto, provocar desequilíbrios (o que em termos corriqueiros significa fazer desafios)” (LIMA, 1980, p. 131).
Caberia então ao professor construtivista então, apenas uma intervenção: criar ambientes favoráveis, encorajando os alunos a pensarem e explorarem, e também, abrir a esse educando um caminho de verificações, investigações e descobertas, descobertas essas, realizadas por sua própria vontade e necessidade, respondendo às suas duvidas e inquietações, passando assim aos poucos a construir seus próprios conhecimentos, atingindo seu crescimento individual.
A partir do que foi mapeado até este momento, foi realizada uma pesquisa junto aos educadores de forma a mapear de que forma a teoria piagetiana faz parte da concepção pedagógica que acreditam trabalhar em sala de aula.
2. AS IDEIAS DE PIAGET E SUAS INFLUÊNCIAS SOBRE O TRABALHO DO PROFESSORCom o intuito de responder aos questionamentos acima levantados foi realizado uma pesquisa de campo com entrevistas semi-estruturadas, na qual foram entrevistados nove professores da educação infantil, os quais foram questionados a respeito dos seus conhecimentos sobre as ideias de Piaget e se os mesmos as trabalham em sala de aula.
O critério de escolha dos entrevistados foi o tempo de formação dos docentes, e a razão para essa escolha se justifica na intenção de verificar, primordialmente, se os professores formados há certo tempo, conhecem e utilizam as ideias de Piaget em sala de aula, sob a hipótese de não terem tido acesso em sua formação às ideias do autor, e, por outro lado, analisar se os professores recém formados que tiveram acesso a essa discussão teórica ao longo da formação inicial, fazem uso dela. Sendo assim foram entrevistados três professores que possuem dez anos de formação, três professores que possuem cinco anos de formação e três professores que acabaram de se formar.
As duas primeiras perguntas estão conectadas. A primeira questiona os professores, se os mesmos conhecem as idéias de Piaget, e a segunda questão procura investigar quais seriam esses conceitos. Todos os professores afirmam que conhecem ou já ouviram falar do autor, a partir do que chamaram de “teoria do desenvolvimento”, citando por vezes as fases e as idades correspondentes. Somente um dos professores, que acabou de se formar, soube citar os estágios, as idades e também conceituar simplificadamente algumas características das fases. De certa forma, os conceitos apresentados, ainda que de forma simplista, estão corretos. Os professores que citam os estágios nomeiam e definem as idades de maneira correta, e os conceitos de assimilação e acomodação, foram explicados de acordo com a teoria piagetiana.
Em relação à aplicabilidade das ideias de Piaget em sala de aula, certa coerência por parte dos professores ao trabalharem as ideias que conhecem, com seus alunos. Esse trabalho acontece, quando o professor respeita o processo de maturação do aluno, intervindo se necessário for, e só dá um encaminhamento no conteúdo quando observa que houve a compreensão significativa por parte da criança. Como observado por um dos professores que acabou de se formar, “[...] é importante acompanhar o desenvolvimento do aluno através dos processos de assimilação e acomodação, podendo assim, pelos processos de acomodação, aumentar o grau de dificuldade do conteúdo”.
Em relação a respeitar o processo de maturação da criança, o professor que a cita tem como base as fases do desenvolvimento de Piaget que em outras palavras quer dizer que essas fases “[...] equivalem a certos patamares da construção da estrutura cognitiva” (SILVA, 2009, p. 72). Assim sendo, o professor precisa respeitá-los até que a sua construção da estrutura cognitiva esteja completa.
Os professores que a aplicam, e não encontram dificuldades para trabalhá-la em sala de aula, mencionam que as ideias de Piaget apenas vêem facilitar seus trabalhos, pois, quando o aluno é encarado como centro no processo de ensino e aprendizagem, ele mesmo constrói seus conhecimentos, com a sua interação com os objetos existentes no meio, concretizando sua aprendizagem. E também ao entender as fases do desenvolvimento, sua observação em sala de aula será significativa, sabendo a hora de intervir e mediar o processo de ensino e aprendizagem.
Em relação aos conhecimentos sobre as teorias de Piaget, e sua aplicabilidade em sala de aula, até os que não fazem uso dela, acreditam que as teorias de Piaget facilitam e colaboram com o trabalho do professor em suas observações, suas posturas, podendo proporcionar um olhar mais critico sobre ela, e também, podendo de forma significativa entender o universo infantil.
No inicio da pesquisa acreditava-se que os professores formados a mais de dez anos não teriam tido o mesmo acesso as teorias de Piaget que os professores formados a cinco anos e/ou os recém formados. Porém, diante da entrevista realizada, essa hipótese mostra-se falsa.
Levanta-se a possibilidade de que em sua formação inicial, os professores, tanto os que possuem dez anos de formação como os de cinco e os recém formados, não tenham tido acesso às teorias e ideias de Piaget concretamente, com todas as ideias e conceitos, mas, por vezes, suas motivações profissionais possam tê-los levado a esses conceitos, simplesmente por vontade de conhecê-los.
Em relação aos conhecimentos que os professores possuem sobre Piaget e sua teoria percebe-se que em sua maioria este pode ser considerado um conhecimento simplificado, com nomenclaturas e conceitos simplistas sobre essas teorias, deixando por vezes de citar alguns conceitos de fundamental importância nas obras de Piaget, e que também poderiam ser essenciais para uma formação mais solida dos professores, como os conceitos de Inteligência e os próprios acontecimentos que ocorrem em cada fase do desenvolvimento da criança, muitas vezes citados, mas pouco comentados em profundidade.
Em relação à aplicação das ideias de Piaget na educação, Emília Ferreiro se questiona sobre esse processo e a possibilidade de aplicá-las. Esse questionamento de Ferreiro (2001, p. 36) se baseia como sendo as ideias de Piaget uma “teoria geral de processos de aquisição de conhecimento, desenvolvida em tais domínios, mas potencialmente apta para dar conta dos processos de construção de outras noções em outros domínios.” Ou seja, Piaget formulou algumas teorias específicas inclinadas em determinados objetivos, mas por vezes, suas teorias podem ser usadas para dar conta de outros processos de aquisição de conhecimento. Por isso o fato de se aplicar Piaget nas salas de aula, e sua grande importância para a formação e ação do professor.
A partir dessa análise, pontuamos que talvez a palavra certa não seja “aplicar”. Embora Piaget tenha criado ideias e teorias para responder a questionamentos como “[...] de que forma se dá a passagem de um estado de menor conhecimento para um estado de maior conhecimento”, e pesquisado isso através de crianças e seus comportamentos, é claro, que ao se tomar consciência da importância dessas pesquisas para a educação, aos poucos elas seriam transpostas para a sala de aula. Para evitar possíveis dualidades, o termo “aplicar a teoria de Piaget” deve ser substituído por “testar suas ideias e hipóteses em sala de aula”, configurando assim, a proposta piagetiana enquanto método de investigação e não, enquanto método pedagógico.
Então em relação a “testar suas ideias em sala de aula” é possível dizer que os professores o fazem. Entretanto, por vezes, eles se esquecem de se preocupar com a construção do conhecimento, tanto discutido por Piaget.
São citados conceitos dos processos de assimilação e acomodação do conhecimento, e em quase todas às vezes são citadas as fases do desenvolvimento da criança, porém, em poucos momentos se nota a real preocupação por parte dos professores de fazer com que a criança construa e desenvolva seu conhecimento. Saber conceituar as ideias de Piaget, muitas vezes pode não significar muita coisa quando o seu verdadeiro sentido não é compreendido.
3. CONSIDERAÇÕES FINAISAo conhecer as ideias de Piaget, é importante não deixar de comentar sua postura quanto à aplicação em sala de aula. O mesmo se dá à concepção construtivista, que diversas vezes foram lembrados que não se deve tratá-la como as tendências ou métodos de ensino já existentes, ou seja, como regras e maneiras de trabalhá-la. Ao ter como base esse conhecimento, fica claro que as ideias de Piaget e a concepção construtivista são levadas à educação como base para as praticas dos professores.
Entendido esse ponto, o professor que conhece as ideias de Piaget, - também na concepção construtivista - e se baseia nelas para um melhor e significativo trabalho em sala de aula, tem no processo pedagógico por ela potencializado, um aluno que vai a busca de seus conhecimentos, e neste caminho o professor deve questioná-los e fazer com que os mesmos reflitam sobre esses conhecimentos no sentido de intervir, tendo por fim, resultados satisfatórios quanto à aprendizagem do aluno (pelo fato do mesmo tê-lo construído no decorrer desse processo).
A ideia central dessa pesquisa se baseia na questão da possível influencia das ideias de Piaget na formação de um professor. Através da pesquisa bibliográfica, apontando os conceitos das ideias de Piaget, e a assimilação dessas ideias em sala de aula, foi possível verificar que o professor que a utiliza de maneira integra, não terá grandes problemas com o seu processo de ensino e aprendizagem, beneficiando o desenvolvimento da criança.
Também foi possível constatar que, mesmo com poucos conhecimentos sobre os conceitos de Piaget, e também trabalhando-os em sala de aula de maneira simplificada, os professores recebem uma significativa influência em sua prática dessa teoria e que os conhecimentos sobre essa ideias independem do tempo de formação dos professores. Levantou-se que o trabalho pedagógico com os conhecimentos relativos à Piaget, depende do interesse e da sua procura por eles. Sendo assim, o professor deve por seus próprios esforços, buscar conhecimentos e diversificados métodos para um expressivo desempenho em seu trabalho.
Embora a analise não possa ser feita de acordo com o que foi citado acima (por tempo de formação), é importante salientar que por vezes as teorias de Piaget e o Construtivismo não foram trabalhados de forma concreta e significativa na formação inicial desses professores.
Diante dessa observação, é necessário salientar a proposta de que o trabalho de Piaget apareça de forma mais expressiva nos currículos dos cursos de formação de professores (independente do nível de formação), para que os futuros docentes finalizem esse processo inicial de forma que dominem as principais ideias propostas por Piaget, e as possíveis posturas a serem tomadas em seu trabalho ao assimilá-las para a prática em sala de aula. Ou então, se isso não ocorrer, que o próprio docente formado procure aprofundar seus conhecimentos a respeito dessas ideias e da postura construtivista através da formação continuada, que dará o subsidio necessário ao professor para a assimilação e atuação em sala de aula de forma coerente e significativa.
Bibliografia
BECKER, Fernando. O Que é construtivismo?. Revista de Educação. AEC: Brasília, v. 21, n. 83, p. 7-15, 2009.
COELHO, Marly de Oliveira; MIRANDA, Alair dos Anjos. Dialógica. Ensino/Aprendizagem: uma análise da prática docente. vol.1 n.2 2007. Disponivel em: http://dialogica.ufam.edu.br/dialogican2.htm. Acesso em 02 de Agosto de 2011.
FACCI, Marilda Gonçalves Dias. Valorização ou esvaziamento do trabalho do professor? Um estudo crítico comparativo da teria do professor reflexivo, do construtivismo e da psicologia vigotskiana. São Paulo: Autores Associados, 2004.
FERRACIOLI, Laércio. Aspectos da construção do conhecimento e da aprendizagem na obra de Piaget. Cad.Cat.Ens.Fís. v. 16, n. 2: p. 180-194. Espírito Santo, agosto: 1999
COELHO, Marly de Oliveira; MIRANDA, Alair dos Anjos. Dialógica. Ensino/Aprendizagem: uma análise da prática docente. vol.1 n.2 2007. Disponivel em: http://dialogica.ufam.edu.br/dialogican2.htm. Acesso em 02 de Agosto de 2011.
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