O QUE É LITERATURA INFANTIL
“Ainda acabo fazendo livros
onde nossas crianças possam morar”
Monteiro Lobato
A Literatura infantil é,
antes de tudo, literatura, ou melhor, é arte: fenômeno de criatividade que
representa o Mundo, o Homem, a Vida, através da palavra. Funde os sonhos e a
vida prática; o imaginário e o real; os ideais e sua possível/impossível
realização. (Cagneti,1996 p.7) A literatura infantil leva a criança à
descoberta do mundo, onde sonhos e realidade se incorporam, onde a realidade e
a fantasia estão intimamente ligadas, fazendo a criança viajar, descobrir e
atuar num mundo mágico; podendo modificar a realidade seja ela boa ou ruim.
“A história da literatura infantil tem
relativamente poucos capítulos. Começa a delinear-se no início do século XVIII,
quando a criança pelo que deveria passa a ser considerada um ser diferente do
adulto, com necessidades e características próprias, pelo que deveria distanciar-se
da vida dos mais velhos e receber uma educação especial, que a preparasse para
a vida adulta”(.Cunha,1999,p22).
Antes disso, a criança, acompanhando a vida
social do adulto, participava também de sua literatura. Existiam no século
XVIII, duas realidades. A criança da nobreza, orientada por preceptores, lia
geralmente os grandes clássicos, enquanto a criança das classes
desprivilegiadas lia ou ouvia as histórias de cavalaria, de aventuras. As
lendas e contos folclóricos formavam uma literatura de cordel de grande
interesse das classes populares. Devido à concepção de infância que estava se
constituindo, fez-se necessário novos mecanismos para “equipar” e “preparar” a
criança para enfrentar mais tarde o meio social.
A escola tornou-se, então, uma instituição
legalmente aberta, não só para a burguesia, mas para todos os segmentos da
sociedade e a literatura infantil vem, então validar esse processo de
escolarização; isto porque, como a escola “ trabalha sobre a língua escrita,
ela depende da capacidade de leitura das crianças, ou seja, supõe terem esta
passado pelo crivo da escola” (Lajolo e Zilberman, 1991, p. 18).
No caminho percorrido, à procura de uma
literatura adequada para a infância e juventude, pode-se observar duas
tendências próximas daquelas que já influenciavam a leitura das crianças: dos
clássicos, fizeram-se adaptações e do folclore, nasceu os contos de fada, até
então quase nunca voltados especificamente para a criança. A literatura
infantil desde a origem sempre foi ligada à diversão ou ao aprendizado das
crianças, acreditava-se que seu conteúdo deveria ser adequado ao nível da
compreensão e interesse desse peculiar destinatário.
Como a criança era vista
como um adulto em miniatura, os primeiros textos infantis resultaram de
adaptações ou da minimização de textos escritos para os adultos. Expurgadas as
dificuldades de linguagem, as digressões ou reflexões que estariam acima do que
eles consideravam possível para a compreensão infantil; retiradas as situações
de conflitos não exemplares e realçando principalmente as ações ou peripécias
de caráter aventuroso ou exemplar, as obras literárias eram reduzidas em seu
valor intrínseco, mas atingiam o novo objetivo; atrair o pequeno leitor/ouvinte
e levá-lo a participar das diferentes experiências que a vida pode proporcionar
ao nível do real ou do maravilhoso.
O
começo de tudo Os irmãos Grimm, colecionadores de histórias folclóricas, estão
assim ligados à gênese da literatura infantil. Tiveram seus contos republicados
e adaptados uma infinidade de vezes, a tal ponto que hoje tais relatos se
apresentam demasiadamente modificados.
Em cada país, além dessa literatura tornada
universal, vão aos poucos surgindo propostas diferentes de obras literárias
infantis. “No Brasil, a literatura infantil tem início com obras pedagógicas e,
sobretudo adaptações de obras de produções portuguesas, demonstrando a
dependência típica das colônias”(Cunha, 1999,p.23).
No final do século XIX estava sendo mudado o
regime político no Brasil; a República adotada a partir de 1889 substituía a
Monarquia, após o longo reinado de D. Pedro II, Imperador desde1840. Nas
últimas décadas do século XIX, os países europeus no qual o Brasil se espelhava
começavam a transitar para o regime republicano que, à primeira vista, parecia
mais democrático. Por meio de eleições periódicas e livres, os dirigentes
podiam ser trocados de modo que a Sociedade dispunha de ocasiões mais numerosas
para manifestar insatisfação quando essa acontecia. Além disso, o regime
republicano quando acompanhado de consultas aos votantes, oportunizava a um
maior números de pessoas declarar sua opinião mostrando-se pois mais liberal e
dinâmico.
Nesse novo Brasil de
transformações ao final do século XIX, se dá o aparecimento dos primeiros
livros para crianças escritos e publicados por brasileiros; mas é com Monteiro
Lobato que tem início a verdadeira literatura infantil brasileira.
A leitura se faz muito
importante em nossas vidas, através dela podemos aprender, ensinar e conhecer
outras culturas.
A sua grandiosidade deve ser
compreendida como uma leitura que permita a viagem no mundo da imaginação, tão
presente na infância. A inspiração para a realização deste trabalho, surgiu a
partir da observação do comportamento das crianças de 2 e 3 anos de idade,
diante das histórias contadas nas Tendas Que Contam Histórias;
A Pedagogia do
Encantamento,projeto elaborado pela Secretaria de Educação do Município de
Mesquita. Também serviu de inspiração, o trabalho que as professoras da unidade
realizam com a literatura infantil em sala de aula, procurando despertar nos
alunos; imaginação, participação e envolvimento nos contextos das histórias.
O desenvolvimento da
imaginação infantil quando compartilhado, divulgado e aplaudido faz do sujeito
alguém envolvido com as idéias, compreensivo, crítico e modificador das
situações prazerosas ou não, torna-se alguém com ideais. Ao experimentar a
leitura o leitor executa um ato de compreensão e interpretação do mundo, e
através dessa compreensão pode modificar ou resignificar o contexto no qual
está inserido.
O trabalho com literatura
infantil tem como possibilidade de resultado a formação de leitores/escritores
competente. Tem como objetivo formar alguém que compreenda aquilo que lê; que
consiga transmitir aos outros os elementos de uma história através das
ilustrações; que possa transformar um texto numa narrativa prazerosa a quem
ouve; que possa aprender a ler o que não está escrito; que saiba que vários
sentidos podem ser atribuídos a um texto; que possa imaginar e criar.
A literatura é um possível
caminho para a criança desenvolver a imaginação, emoções e sentimentos de forma
prazerosa e significativa. Para contar a história é preciso saber como se faz,
e através das histórias as crianças aprendem nomes, sons, músicas e se inserem
na cultura. Quem conta histórias precisa
criar um clima de envolvimento; e o objetivo desse trabalho é mostrar a
importância da literatura infantil e também a importância das pessoas que
contam as histórias na educação infantil; e acima de tudo incentivam as
descobertas através dos livros. A presente monografia propõe discutir o papel
que a literatura infantil exerce na formação das crianças; partindo da
trajetória histórica da literatura infantil ao longo dos tempos, para enfatizar
a necessidade de sua utilização na escola, em casa, na vida. Visa demonstrar a
importância do diálogo no cotidiano da creche, do uso das linguagens e do
exercício de interpretação através da literatura infantil, seus textos e
ilustrações.
Ao reconhecer a linguagem como o veículo de
comunicação entre o aluno, o professor e os colegas em sala de aula; e também
as práticas que compõem a educação infantil, como as rodas de conversas, os
momentos da contação de histórias, e as músicas de escola, como as crianças
costumam nomear. O trabalho também procura esclarecer, que ao longo dos anos se
convencionou que existe uma literatura para cada criança, de acordo com sua
faixa etária, mas para além dessa classificação, também de acordo com seu
gosto, seu mundo, sua cultura, seu meio social; e que não ler não é um problema
social, já que pessoas que possuem um poder aquisitivo razoável muitas vezes
preferem investir em outros meios de diversão para seus filhos. Não ler é um
problema cultural, as crianças brasileiras leem pouco, porque não são
incentivadas; cabe aos professores, a escola e aos pais desenvolverem esse
hábito saudável nas crianças, desde a infância.
Presenças marcantes na
literatura infantil e nas Tendas Que Contam Histórias Ana Maria Machado Embora
Ana Maria Machado costume afirmar que nunca houve um interesse direto em
escrever para crianças, o sucesso que faz sobre esse público marca sua
trajetória como escritora de literatura infantil. Desde cedo essa notável
escritora que chegou a Academia Brasileira de Letras no ano de 2003 demonstrava
seu dom para literatura; quando fazia diários, escrevia cartas, participava do
jornalzinho do colégio. Ana Maria estudou letras e deu aula de literatura em
faculdades, trabalhou em jornal e fez traduções; o seu lado diletante como
escritora começou quando encomendaram uma história para uma revista.
Os leitores gostaram e foram
surgindo outras. E muitas outras. Ana sofreu influência e bom exemplo, de seu
pai, o jornalista e político Mario Martins, que lhe ofereceu um ambiente cheio
de livros e lhe contou histórias. Sua carreira como escritora de literatura
infantil, foi despertada a partir do momento em que a autora escreveu histórias
infantis para uma revista, assim ela percebeu que se identificava com o público
infantil e com esse tipo de linguagem, onde o literário faz uma interseção com
o coloquial/oral/familiar. Ana Maria Machado também vê em Monteiro Lobato o
começo de tudo de maravilhoso e marcante para a literatura infantil, mas também
vê no Brasil atualmente várias manifestações de talento.
Ana
Maria Machado é uma das escritoras que tem suas publicações muito utilizadas
nas Tendas Que Contam Histórias.
Ruth Rocha A escritora
paulista Ruth Rocha teve uma infância considerada por ela feliz. Cresceu em São
Paulo, na década de 30, cercada de afeto e bons contadores de histórias.
O melhor deles era o avô
materno, nascido no Pará e dono de um repertório e de uma imaginação sem
fronteiras. Seu avô contava de histórias de Branca de Neve como se tivesse
acontecido em Quixeramobim no Ceará. O
pai de Ruth, Álvaro sabia apenas duas histórias que contava, e recontava aos
filhos. Álvaro tinha talento e quando se dispunha a contar uma história
era sempre uma festa.
Livros não faltavam na casa de Ruth, nem os
gibis, a escritora era a única do grupo de amigos da escola que tinha conta na
banca de jornal. Podia comprar quadrinhos à vontade. Apesar de tanto estímulo,
Ruth só escreveu sua primeira história aos 38 anos. Publicada na Revista
Recreio da editora Abril, a história falava de duas borboletas que não podiam ficar
juntas porque eram de cores diferentes,numa parábola ao racismo. Chamava-se
Romeu e Julieta e foi um sucesso. Depois de algum tempo veio o primeiro livro.
Palavras, muitas palavras. A autora já vendeu cerca de 12 milhões de exemplares
no mundo inteiro em 25 idiomas.
Em abril de 2000, Ruth
lançou Odisséia na qual reconta as peripécias do herói Ulisses, o livro
tornou-se um dos maiores sucessos da autora.
Ao contrário de Ana Maria
Machado que começou a escrever para o público infantil quase por acaso, Ruth
Rocha sempre esteve com o olhar voltado para esse gênero literário, fez da
criança e seus desejos a razão da sua escrita.
As duas autoras viveram num
ambiente repleto de livros, histórias e fantasias, contadas por pessoas
marcantes em suas vidas. Ana começou de “mansinho”. Ruth com objetivos
firmados, mas afinal; a literatura infantil está mesmo presente em nossas vidas
desde a infância? Existe fórmula certa para agradar o público infantil? Ou ao
invés de conquistá-los, somos conquistados por eles?
O grande mestre de Ana Maria
Machado e Ruth Rocha José Bento Monteiro Lobato nasceu em Taubaté, interior de
São Paulo em 1882, formou-se em Direito e atuou como promotor público e depois
se tornou fazendeiro devido à herança deixada por seu avô.
Em
1917 o grande escritor Monteiro Lobato comprou a revista do Brasil, e
com isso deu origem as suas atividades editoriais, publicando o Urupês e muitas
outras obras, dando sempre prioridades a autores novos.
Monteiro Lobato em sua peculiaridade de editor
fazia seus exemplares serem vendidos em todo o país, em qualquer tipo de
comércio, e não apenas em livrarias, chegando a mudar de 400 ou 500 exemplares
por edição para 3000 em média.
Nessa mesma época fez
editar, talvez por inexperiência 50.500 exemplares de Narizinho Arrebitado, um
livrinho de leitura extra. Esse programa do autor foi notado pelo Presidente
Washington Luis, que, tendo observado a avidez com que as crianças liam,
recomendou-o ao Secretário de Educação Alarico Silveira, e 30.000 exemplares
foram comprados.
Além do lado empreendedor, e
sempre em busca de novidades, pois só publicava jovens e desconhecidos autores
como Paulo Setúbal, Menotti Del Picchia, Humberto de Campos, Oswald de Andrade,
Oliveira Viana e outros; Lobato primou também pela apresentação gráfica de seus
livros.
Os livros brasileiros eram editados na Europa,
Monteiro Lobato passou a editar livros didáticos e infantis no Brasil,
mudando-lhes o formato clássico, revestindo-os com capas desenhadas e
coloridas. Monteiro Lobato morreu em 1948 tornando-se historicamente o
precursor da literatura infantil no Brasil.
NÃO
LER: UM PROBLEMA SOCIAL OU CULTURAL?
Todos nós temos uma
história, e as histórias de nossas vidas dariam um livro se tentássemos
escrevê-las; o difícil é compreender tudo isso, e temos a tendência de achar
que nada em nossas vidas é significativo o bastante para tentar.
Com a criança não é
diferente, alguma delas ouvem histórias desde o ventre materno, quando suas
mães falam para elas ou com elas, fazer histórias, ouvir histórias ou escrevê-las
humaniza a criança e nos humaniza também.
Vai nos tornando cidadãos
modificadores ou autores da cultura e mergulhados nesta cultura, surgem
transformações cada dia mais rápido numa velocidade imensurável. Mas quando foi
na verdade que toda esta mudança começou?
Como já foi apontado no item
2; no século XVIII crianças e adultos se misturavam nas sociedades
tradicionais, as crianças compartilhavam intensas trocas afetivas dentro e fora
das famílias, onde colhiam suas aprendizagens.
Se antes as crianças estavam
misturadas com os adultos, em toda reunião para o trabalho, o passeio ou o jogo
juntava se crianças e adultos; hoje percebemos a tendência crescente de separar
o mundo das crianças do mundo dos adultos.
A educação das crianças que acontecia diretamente
ligada à vida nas reuniões de trabalho e lazer foi substituída pela
aprendizagem escolar. A formação instrumentalizada para o mundo do trabalho
exigia uma maior especialização de conhecimentos a serem adquiridos. Começa,
então, um longo processo de enclausuramento de crianças, mas também dos adultos
que se estende até os dias de hoje.
Com a intensa
competitividade no mercado de trabalho e a busca incessante por bens de
consumo, os pais já não compartilham com os filhos momentos longos e prazerosos;
esses momentos foram substituídos por agendas lotadas das crianças e
compromissos que nem mesmo um adulto consegue fôlego para cumpri-los. Com os
avanços tecnológicos entende-se que a criança já não precisa mais da companhia
dos adultos, os brinquedos eletrônicos substituem a presença dos pais, os
espaços também são reduzidos, crianças são presas em casas ou apartamentos;
quase não existem mais brincadeiras nas praças, nas ruas nos parques ou nos
campinhos de futebol.
Carinho e afetividade são
transformados em objetos, surge um verdadeiro boom de brinquedos eletrônicos e
inicia-se a desenfreada cultura de consumo.
Por que ler? Podemos ter
várias atitudes perante a leitura. Ela é uma atividade profundamente individual
e duas pessoas dificilmente fazem uma mesma leitura de um texto. Pode se dizer
que a maneira como a leitura será interpretada dependerá do ponto de vista, do
momento e do conhecimento de cada pessoa.
Ao contrário da escrita que
é uma atividade de exteriorizar o pensamento, a leitura é uma atividade de
assimilação de conhecimento, de interiorização, de reflexão. No momento que uma
pessoa se entrega à leitura ela tem oportunidade de “viajar” em seus
pensamentos. Há um dito popular que diz que a leitura é o alimento da alma.
Nada mais verdadeiro. As pessoas que não leem são pessoas vazias ou subnutridas
de conhecimento. È claro que a experiência de vida não se reduz à leitura.
A vida como tal é a grande
mestra. Algumas pessoas analfabetas conseguem, às vezes, se sair bem
economicamente, mas nem por isso deixam de ser pessoas vazias. Tem a riqueza
externa, sabem se virar na sociedade, mas não possuem o conhecimento que os
livros oferecem aos seus leitores; só a experiência da vida, por mais rica que
possa ser, não é suficiente para fornecer uma cultura sólida e geral.
De qualquer modo podemos afirmar que a leitura
traz benefícios para o ser humano, no sentido individual, aos poucos a pessoa
vai se modificando à medida que se enriquece culturalmente através da leitura,
mas essa mudança nem sempre é possível de uma maneira geral, ou seja, com as
pessoas que estão ao redor do leitor; é necessário que o desejo de mudança
também esteja presente nessas pessoas. Sem dúvida, o prazer da leitura é
pessoal, não social.
Não se consegue
melhorar-diretamente- as condições de vida de alguém apenas tornando-os um
leitor competente. Hoje o ser humano se depara com uma gama de informações que
chega todo momento; esse avanço, ao mesmo tempo em que traz benefícios para a
sociedade atual, também tira do ser humano o prazer da leitura, que nada mais é
do que uma maravilhosa aventura.
A criança que é tão mergulhada nessa gama de
informações e transformações, também sofre e recebe essas modificações através
dos meios de comunicação. Se as prateleiras das livrarias estão lotadas de
livros e as bancas de jornal repletas de jornais, livros, revistas e gibis; o
computador e as emissoras de TV também estão impregnadas de informações, com
uma velocidade assustadora e ao mesmo tempo admirável pelos adultos e
principalmente pelas crianças. Porque os livros infantis continuam nas
prateleiras e já não são comprados por adultos para presentear as crianças?
As publicações já não tem o
valor ético e muito menos estético, mas também não é a principal preocupação de
quem as escreve e as publicam.Na verdade a maior intenção está voltada para o
consumismo; e a criança tem se mostrado um dos maiores consumidores dessas
parafernálias eletrônicas.
“A sociedade ocidental
moderna dá ao brinquedo um lugar e uma difusão sem precedentes, por meio de um desenvolvimento
industrial que instituiu a produção, a venda e o consumo sistemático desses
objetos” ( Kramer, 2006, p. 173 ) .
Muitos educadores reclamam,
muito atualmente, contra o crescente desinteresse dos estudantes de todos os
níveis pela leitura. Muitas e diferentes razões são apontadas, para o fato:
descuido familiar, decadência do ensino, excesso de facilidades na vida
escolar, apelos sociais com muitas formas de diversão etc... Contribuir para a
formação de um bom leitor, despertar a reflexão e fazer com que a leitura passe
a ser um hábito cotidiano é um desafio e uma prova para o professor,
principalmente quando a busca não tem o apoio dos pais, ou porque não sabem, ou
porque não se interessam. Em casa algumas crianças, mesmo as mais carentes tem algum
contato com a leitura.
Alguns pais lêem jornais, o
que permite a criança o contato com o mundo letrado, o difícil é fazer com que
esses mesmos pais leiam alguma coisa para as crianças. O contato com vários
gêneros textuais, leva ao desenvolvimento da oralidade, da leitura e
conseqüentemente da escrita, além das habilidades artísticas, intelectuais e
corporais. Despertar o interesse dos alunos pela leitura não é tarefa fácil e
diante dessa realidade cabe aos professores estimular o interesse através de recursos
inovadores e interessantes.
O incentivo à literatura na infância deve ser
uma tarefa da escola e da família, mas podemos nos perguntar como é o seu
desenvolvimento? Contribuem para a formação do leitor? A escola anda cumprindo
o seu papel?
Muitos projetos de leitura
estão sendo desenvolvidos em várias escolas, o que nos dá a sensação de que nem
tudo está perdido. Acredito que a criança que gosta de ler está na casa, onde
se preza a cultura; a escola onde se valoriza o professor, onde o aprendizado da
leitura é maravilhoso e onde, conseqüentemente se tem livros.
Na casa onde os pais lêem, onde as crianças
tem acesso ao livro, é mais fácil que gostem de ler. Baseada nas minhas
observações e experiência de vida; posso afirmar que a iniciação á literatura
infantil não precisa ser necessariamente no ambiente escolar; os pais devem
iniciar esse processo mesmo com as crianças que ainda não estão freqüentando a
escola. É preciso que os pais comecem cedo a falar com seus filhos, conversar,
ouvir respostas, porque é assim que se aprende a raciocinar.
Se lerem para as crianças
desde cedo, elas aprendem a língua rapidamente. A criança aprende ouvindo
histórias. Entre o computador, a televisão, os jogos eletrônicos, a música, a
brincadeira na rua ou nas praças, a leitura ocupa sempre o último lugar na
lista de diversão das crianças.
Quando indagados sobre a
leitura, e as historinhas infantis, as crianças afirmam que gostam muito,
participam e se emocionam; esse resultado deixa claro que a dificuldade que
alguns educadores ainda encontram em de formar crianças leitoras, não é um
problema social, já que alguns pais tem poder aquisitivo para comprar livros e
ler histórias para seus filhos, mas mesmo assim preferem investir em outro meio
de diversão. Não ler é um problema cultural, a criança lê pouco porque não é
incentivada desde a infância.
A
FORMAÇÃO DO LEITOR
Tem sido cada vez maior o
investimento na educação e em especial na educação infantil. Assim, dentro das
três áreas vitais do homem (atividade, inteligência e afetividade) em que a
educação deve promover mudanças de comportamento, a literatura infantil tem sua
função. Um dos objetivos do
Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil é que, através do trabalho
com a leitura, a criança possa: participar das variadas situações de
comunicação oral; interessar-se pela leitura de histórias; familiarizar-se com
a escrita por meios de livros, revistas, histórias em quadrinhos etc...(RCN,
1998,p.119) A leitura rápida e compreensiva de um texto é uma prática a ser desenvolvida
também pela literatura. A leitura reflexiva, a aprendizagem de termos e de
conceitosaspectos da aprendizagem intelectual- conseguem-se também pela
leitura. As preferências, os ideais e as atitudes, como o gosto pela leitura, o
amor às nossas coisas, podem ser atingidos entre outras formas através da
literatura. Sendo assim, é preciso oferecer às crianças, oportunidades de
leitura de forma convidativa e prazerosa. É nesse sentido que a literatura
infantil desempenha um importante papel, o de favorecer aprendizagens,
compreensão de valores, confronto com diferentes idéias, culturas, crenças,
opiniões e informações diversas.
A escola pode desenvolver
uma prática que traga esses aspectos da literatura; mas essa prática requer
atenção, para que a criança não se sinta “cobrada” através da literatura. É
fundamental que a criança sinta o gosto pela leitura.
A literatura possibilita que
as crianças consigam redigir melhor desenvolvendo sua criatividade, pois o ato
de ler e o ato de escrever estão intimamente ligados. Um exame das variações
dos hábitos de leitura de uma nação para outra, demonstra que o lugar ocupado
pelos livros na escala de valores dos responsáveis pela sua promoção é de
primeira importância: todas as autoridades do Estado, da comunidade e da
escola, todos os professores, pais e pedagogos precisam estar seriamente
convencidos da importância da leitura e dos livros para a vida individual,
social e cultural; se quiserem contribuir para melhorar a situação de
aprendizagem na escola.
A prática da literatura em
sala de aula Constatamos que agora a produção editorial destinada às crianças e
aos jovens é numerosa em títulos no Brasil.
Há um considerável número de
edições abrangendo gêneros, estilos e temáticas diversas, belas ilustrações e
produção gráfica cuidada, resultado de um mercado cativo criado pela reforma de
ensino, já que de um tempo para cá muitos incentivos à leitura estão sendo
divulgados tantos pelos órgãos responsáveis pela educação, quanto pela mídia.
Essa reforma também é uma preocupação da Secretaria de Educação; no ofício
048/2009 que traz a seguinte pergunta:
“como podemos propiciar aos nossos alunos, em
nossas atividades cotidianas na escola, mais e melhores situações de
aprendizagem que permitam ampliar as suas possibilidades como leitores e
escritores?” A secretaria evidencia um apelo para que os educadores tenham um
olhar, uma preocupação e um envolvimento maior na formação de alunos
leitores/escritores e que os profissionais de ensino de um modo geral, estejam
envolvidos com a realidade e o compromisso de manter todas as crianças do
Brasil permanentemente dentro da escola; que os alunos sintam prazer em estudar
e principalmente aprender e apreender. Mas como despertar esse interesse na
criança carente em municípios também carentes ?
Quem
sabe a resposta não esteja nas palavras de Leonardo Boff retiradas do prefácio
do livro Pedagogia da Esperança?( Freire, 1992, p. 8): “Paulo Freire mostra a
história e a existência humana com feixe de possibilidades e virtualidades que
podem, pela prática histórica, ser levada à concretização.
Daqui nasce a esperança histórica, aquilo que ele chama de “inédito-viável”,
vale dizer, aquilo que ainda não foi ensaiado e é inédito mas que pode, pela
ação articulada dos sujeitos históricos, vir a ser ridente realidade”. A tarefa
de formar alunos leitores necessita de professores envolvidos com a literatura
desde o início, na Educação Infantil.
A literatura infantil é muito importante na
formação do pequeno leitor, porque através dela a criança utiliza a imaginação
provocada pela curiosidade, com isso amplia o conhecimento do mundo, viaja num
mundo de imaginação e fantasia.
É na escola que podemos
identificar o crescimento do público leitor; mas é também ela que nos mostra,
diante do número alarmante daqueles que a ela não tem acesso, dos altos índices
de professores leigos que atuam em seus quadros, da deficiência de formação
específica para as questões relativas à leitura no curso normal e na
universidade, diante, enfim, da carência de bibliotecas escolares, o quanto
ainda estamos distante de uma situação satisfatória.
Os educadores brasileiros vêm
se esforçando para que essa realidade possa ser modificada; e que o despertar
de um aluno leitor/escritor/criativo, possa surgir a partir da participação
ativa do aluno nas histórias e mergulhados num mundo de imaginação e fantasia.
O pontapé inicial partiu da Pedagogia do Encantamento em Mesquita, que conta
com o trabalho inovador das Tendas Que Contam Histórias; um projeto da
Secretaria de Educação.
Essa prática partiu de uma ação utilizada na
da Sala de Leitura; contação de histórias dentro de uma tenda. A Secretara de Educação apostou na idéia e a transformou
em um projeto de incentivo à leitura; a questão da itinerância, ou seja: a Pedagogia do Encantamento
passaria em todas as unidades escolares da rede.
Uma tenda ornamentada de
acordo com o tema, servindo de suporte pedagógico para os professores e alunos,
pois a mesma tem o caráter de transportar o aluno para um ambiente diferenciado
onde a interação e ludicidade estão presentes na arte de contar histórias.
Portanto, o projeto das Tendas Que Contam Histórias tornou-se mais uma
ferramenta de incentivo à leitura .
Atualmente o Brasil trabalha
com 3 Tendas: da Ed. Infantil, do Ensino Fundamental, (1ª etapa ao 5º ano) e da
EJA. A freqüência depende da itinerância. Cada tema construído circula por
todas as escolas segundo sua etapa/modalidade atendendo a todas as turmas.
Quando esta itinerância
termina, é pensada, discutida e construída uma nova temática que seja dialógica
com o planejamento da rede. Sendo assim, cada escola pode receber a visita das
Tendas 2 a 3 vezes no ano. Os candidatos para trabalhar no projeto passam por
uma entrevista preliminar com o Setor de Incentivo à leitura e/ou com outros
profissionais do setor pedagógico da Secretaria de Educação, respondem a um
roteiro com perguntas concernentes a temas associados ao trabalho com a leitura
e, os que passam por esta fase, são chamados para um período de experiência nas
Tendas.
Esses projetos nos fazem
refletir que a Secretaria de Educação tem conhecimento da importância da
literatura infantil e das técnicas de incentivo ao hábito de leitura, e a
partir disso tenta desenvolver projetos, em pequena ou grande escala dentro das
Unidades de Educação Infantil que nos permitam atingir objetivos propostos;
aperfeiçoar a formação do professor em busca de incentivos para agradar o seu
público leitor e facilitar o acesso ao livro em sala de aula para que, a partir
da criança, se forme o leitor crítico, consciente de seus direitos e deveres.
O
professor também pode iniciar o despertar do interesse dos alunos pelos livros
fazendo visitas à biblioteca,dentro e fora do ambiente escolar; a presença do
aluno na biblioteca é fundamental para que o aluno possa ler, tocar e
pesquisar; mesmo com as crianças pequenas. É na biblioteca que os alunos viajam
para além dos conhecimentos trabalhados em sala de aula, e a professora pode
observar os interesses e as curiosidades que surgirão a partir da descoberta de
outros livros; podendo iniciar com isso um novo projeto de leitura , trabalho e
pesquisa, partindo do estímulo e da curiosidade de seus alunos.
Na biblioteca eles descobrem
o mundo da literatura, aprofundam conceitos, aprendem histórias. Quando o
professor vai trabalhar com uma história, é muito importante que goste dela,
que a conheça e a aprecie.
Do contrário, o trabalho não será agradável,
será cansativo e a criança poderá perceber a falta de entusiasmo do educador e
também não se sentir entusiasmada. É importante que a história seja lida antes
e, caso não agrade, deve-se trocá-la por outra, que contenha o mesmo objetivo
pedagógico procurado, e que agrade.
Não faltam ótimas histórias e excelentes
autores, mas para isso é preciso, dedicação e prazer do professor em trabalhar
a literatura em sala de aula. Ensinar a amar os livros e a conviver com eles é
uma missão que a escola se empenha em executar há mais de um século. As
bibliotecas das escolas, quando compostas por obras cuidadosamente escolhidas,
podem despertar um maior interesse nos alunos e compartilhar sonhos e fantasias
e podem junto aos alunos trabalhar e reconhecer a realidade.
Leitores iniciantes,
independentes da idade, poderão ficar desencorajados se a leitura não fizer
parte do seu ambiente cultural ou não encontrarem ao seu alcance livros
afinados com seus gostos.Contos de fada, as aventuras ou o folclore podem ser
acrescentados ou transformados na realidade dos alunos.
O
professor ou o próprio aluno podem modificar a história e contá-la ao seu modo,
porque a partir do seu interesse a interpretação e a compreensão podem ser
facilitadas para os outros amigos do grupo. È a realidade do aluno introduzida
na história.”O mundo de minha atividade perceptiva, por isso mesmo como o mundo
de minhas primeiras leituras”..( Freire,2008, p 12 ) Uma maneira de despertar
os interesses da criança é partir da sua realidade e das suas necessidades
pessoais.
A leitura vista com um valor em si mesma como
“um desafio em direção a uma experiência pessoal mais rica” pode ser um
instrumento extremamente rico.
A criança confronta com sua realidade com a
realidade dos livros, ela pode interferir nos fatos descritos e assumir seu
papel como sujeito da história, em comunhão com seus semelhantes. Na observação
vivenciamos as professoras a narrando a história de João e Maria, literatura
conhecida das histórias infantis.
− Olhem para cá, vamos ouvir a história de
hoje, vocês sabem que história é esta? João Lucas − Do João e Maria (
referindo-se a ilustração da capa já conhecida).
A professora conta toda a história e logo em
seguida abre espaço para que alguém possa recontá-la, ela cita alguns nomes que
não aceitaram fazer a atividade, até que uma criança se oferece para ser o
narrador da vez, sentou na cadeira e desempenhou com dedicação o seu papel.
Rodrigo − Era uma vez o João e Maria, ele é irmão dela.
O pai dele é pobre; o pai
dele casou com a bruxa. Aí eles foram para floresta, aí os passarinhos comeram
o pão deles; aí ficou muito escuro ; aí a Maria ficou com muito medo; aí a
Maria comeu a casa dela toda.
− Ah! você não falou a casa de quem. Rodrigo −
A casa toda doce; aí a Bruxa tava dentro da casa; aí a Bruxa colocou eles na
casa do passarinho. (pausa para ler as ilustrações) Quando um aluno:
− O Rodrigo não quer lê Rodrigo − Aí a Maria
empurrou ela dentro,que isso?
− Um forno Rodrigo − Aí a Maria empurrou ela
dentro do forno.Aí a Maria roubou o livro da Bruxa e ficou feliz pra sempre.
Nessa narrativa de Rodrigo(nome fictício), observamos a
utilização dos conhecimentos da realidade do menino, principalmente no momento
da jaula em que ele narrou como se fosse uma gaiola. Podemos observar que
gaiola faz parte do mundo dele e não a jaula apresentada na ilustração da
história. Também notamos que houve pouca intervenção da professora, na verdade
só ocorreu quando o narrador pediu um auxílio, por não reconhecer o forno, que
se apresenta no livro de maneira diferente do forno de casa, do fogão da mãe.
Foi muito importante a observação apenas, porque a criança fica à vontade para
dar asas à imaginação. “Toda leitura é interpretação, e o que o leitor é capaz
de compreender e de aprender através da leitura depende fortemente daquilo que
o leitor conhece e acredita a priori, ou seja, antes da leitura”.( Ferreiro,
1990 p. 15 ).
O relato descrito colabora para idéia de que é
fundamental que as crianças sejam ouvidas. Cada criança terá a sua impressão
pessoal sobre a história, que nem sempre será positiva e isto deve ser
respeitado e, nesse caso, deve-se trabalhar no sentido de levar a criança a
identificar o que não agradou e permitir que ela crie novas soluções para a
situação, observando que de alguma forma a situação está presente em sua vida.

A imagem também é algo de grande importância
para a criança em suas primeiras leituras, pois a criança começa a ler
inicialmente pela imagem, ao mesmo tempo em que cria suas próprias imagens a
partir das histórias que ouve.
Neste aspecto o professor
tem um papel a desempenhar, pois pode incentivar a criança a analisar o livro
não apenas do ponto de vista do conteúdo, mas também quanto à ilustração
oferecendo-lhe a oportunidade de interagir com o texto; exatamente o que faz a
professora com o aluno , permitindo que
ele através das ilustrações, da sua experiência e do que foi lido criasse sua
própria história.
O professor pode
sensibilizar o aluno de forma a fazê-lo acreditar que o livro é o caminho para
encontrar prazer, descobertas, lições de vida e que pode utilizá-los para
desenvolver a capacidade de pensar e crescer.Através da literatura infantil e a
interpretação feita pelos alunos; o professor pode propiciar ao aluno
percepções, buscar diferentes resoluções de problemas, despertando a
criatividade, autonomia, e criticidade, elementos necessários na formação da
criança na sociedade atual.
O contador de histórias Anda
mamãe muito iludida, pensando que aprendo muita coisa na escola. Puro engano.
Tudo quanto sei me foi ensinado por vovó, durante as férias que passo aqui. Só
vovó sabe ensinar. Não “caceteia”, não diz coisas que não entendo. Apesar
disso, tenho cada ano, de passar oito meses na escola.
Aqui só passo quatro...
Monteiro Lobato:
Os laços da literatura infantil com a escola
são alvos de um incentivo maciço com eles são fortalecidos os ideais da classe
média e a literatura é um instrumento de difusão de seus valores, tais como a
importância da alfabetização, da leitura e do conhecimento, e a ênfase no
individualismo, no comportamento moralmente aceitável e no esforço pessoal.
Esses aspectos fazem da
literatura um elemento educativo, embora essa finalidade não esgote sua
caracterização. Como já se observou, a ficção para a infância engloba um elenco
abrangente de temas que respondem as exigências da sociedade, ultrapassando o
setor exclusivamente escolar. Fugindo desse ambiente formal, o contador de
história tem seu valor. A literatura contada pelo adulto e recontada pela
criança serve de mecanismo para fortalecer laços e permitir que o leitor
manifeste seus desejos, seus medos e suas aspirações; exatamente o que ocorreu com Monteiro Lobato na citação acima.
O papel de sua avó foi
fundamental na sua aprendizagem de mundo e realidade, até mais do que a própria
escola. Um cantinho, um pequeno espaço, uma praça ou um banquinho. Tudo pode
servir de palco para uma contação de histórias; o importante é juntar a
criançada e permitir que elas se embrenhem no mundo mágico da literatura e isso
pode ser feito com qualquer faixa etária; mesmo com aquelas que ainda não
dominam os códigos da leitura. “Como é gostoso e importante para a formação da
criança ouvir histórias.
Ao contá-las instigamos a
curiosidade e o desejo de ‘quero mais”, expresso pelas crianças no “conta outra
vez”. São esses sentimentos que nos movem para conhecer e aprender as coisas
que estão no mundo, e, sabendoas registradas em livros, certamente iremos
recorrer a eles, nos tornando, assim, leitores por desejo e motivação.( Perrone
e Lara, 2002, p. 123 ).
É muito importante para o contador de
histórias viajar e levar o seu público infantil junto nessa viagem de. “Era uma
vez”.Durante uma contação de histórias, as crianças assumem diferentes papeis e
diferentes níveis de participação.Quando a criança escuta histórias desde
pequena, ela adquire o gosto por essa atividade e compactua emoção e imaginação
e aprende a lidar com medos e fantasias.
No
Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil, um dos objetivos de 0 a
3 anos explicita a importância da figura adulta no mundo da literatura
infantil.
É através dessa participação que a criança
vive o constante uso da linguagem oral para conversar, relatar suas vivências e
expressar desejos, vontade, necessidades. Participação em situações de leitura
de diferentes gêneros feita pelos adultos e situações cotidianas nas quais se
faz necessário o uso da escrita, observação e manuseio de materiais impressos.
Outra atribuição indispensável ao contador de
histórias é a atenção ao comportamento da criança, saber se a história está
agradando, instruindo ou comovendo. Saber contar histórias é saber como, a quem
e quando contar.
A leitura compartilhada é
muito importante no dia-a -dia. As conversas ficam mais ricas, o vocabulário
melhora, bem como o nível de educação. Incentivar o gosto pela “cultura do
silêncio”, é permitir que as crianças entrem num universo completamente novo em
relação ao mundo ruidoso que já conhecem, através da TV, dos games, das mídias
móveis.
Despertar
as crianças para que aprenda a ouvir o silêncio
pode melhorar a relação da criança com o mundo e com as pessoas.
A literatura infantil e a
transversalidade Através da literatura infantil, o professor pode trabalhar
diferentes temas e assuntos, que fazem parte da transversalidade, como Ética,
Meio ambiente, Pluralidade Cultural, Saúde e Orientação Sexual.
O tema que mais se trabalha e que vem sendo
assunto de discussões e debate nas escolas é a Ética, que diz respeito às
reflexões sobre condutas humanas. A pergunta ética por excelência é: “Como agir
perante os outros?”.
No
livro Raul da ferrugem azul de Ana Maria Machado,
essa pergunta está subtendida em todas a história, afinal o pequeno Raul,
apresentava as manchinhas azuis, por não saber como reagir diante da
insatisfação com o comportamento das outras pessoas.
Uma literatura como esta descrita acima,
permite ao professor da Educação Infantil, ouvir diferentes opiniões na escola,
cada criança tem uma opinião que precisa ser ouvida e argumentada junto com os
colegas e professores. Uma boa oportunidade para se trabalhar o respeito aos
pais e ao mesmo tempo ao Meio Ambiente está presente na história.
A escolinha do mar, de Ruth Rocha, essa
história além do respeito aborda as recomendações que todo pai e mãe faz ao
filho quando este vai fazer alguma viagem, e que é uma preocupação normal dos
pais. Essa história permite trabalhar a vida dos peixes e o convívio harmonioso
entre as diferentes espécies.
Na
fábula O leão e o ratinho, de Monteiro Lobato; está claramente evidenciada
a solidariedade, o amor e o
reconhecimento pelo próximo, apesar de contar a história de duas espécies diferentes,
o ratinho salva a vida do leão depois de ter sua vida poupada pelo rei da
selva. Numa história contada na sala de aula da turma 3 anos “B”, a professora
abordou de maneira sucinta o planejamento da semana, que trabalhava o tema
hábitos de higiene. Também utilizando a literatura infantil, ela contou a
história do ursinho Pooh que se chamava A Hora do Mel.
− Alguém sabe o nome dessa história? J. Lucas
− É o urso Panda (trazendo o conhecimento prévio de outra história).
− Essa história é de um urso e também do mel; alguém
sabe o que é mel?
− É aquilo da abelhinha? − Aquilo o quê? − Aquele negócio. − O negócio que a aluna tal tá falando
é uma delicia, é cremoso e a gente usa para adoçar as coisas de comer, e o urso
gosta muito, vamos ouvir a históra?
− Bem, o ursinho gostava muito de mel, a
barriguinha dele roncava só de pensar naquele mel gostoso; e quando ele
encontrava um pote de mel ele comia tudo, comia bastante. − Alguém aqui come tudo?
− Eu como. Geysa − E o que vocês mais gostam
de comer? Paulo − Feijão Ronnie − Franguinho. − Pois, é o ursinho gosta de mel, mas antes de
comer o ursinho não fez uma coisa que a gente está acostumado a fazer, o que é
?
Todos :− O que a gente faz
antes de comer, ninguém se lembra? − A
gente fica quietinho. − Não é só isso não, o que mais a gente faz .
− A gente lava a mão ------− Muito bem ---------!
Continuando, gente o ursinho comeu tudo e depois ficou com muito sono, ta vendo
a carinha dele de sono, chegou até bocejar. A gente faz o que depois do almoço?
Todos − A gente dorme ------
− Mas antes de dormir, o que a gente faz mesmo?
− A gente escova o dente. − Muito bem João, viu gente não pode dormir
sem escovar os dentes, porque senão dá bichinho na boca, lembra a história da
cárie, que come o dentinho da gente? E alguém lembra da musiquinha que tia
Gláucia cantou?
Descobrindo os jornais,
revistas e gibis: gêneros literários no cotidiano escolar Os jornais por muito
tempo foram proibidos na escola, ou porque eram vulgares demais para serem
lidos, ou marcados por engajamentos políticos, sociais, religiosos;
incompatíveis com a neutralidade do lugar. Desde 1976 a imprensa ganhou o
direito de entrar na escola e os docentes se tornaram livres para utilizar
todos os apoios periódicos que julgarem capazes de ajudar em suas tarefas
educativas. As famílias geralmente lêem mais jornais do que livros e as
crianças tem uma familiaridade muito maior com aqueles do que com esses .
Elas vêem seus pais folhearem as páginas,
procurar uma informação, comentar em voz alta os diversos fatos, mesmo nos
lugares onde se lê pouco. As revistas costumam desempenhar bem o seu papel na
formação dos leitores, geralmente possuem um papel de melhor qualidade e as
fotos coloridas costumam despertar maior interesse.
Em algumas famílias e
escolas lhes é permitido recortar, rabiscar e até rasgar as páginas. Geralmente
na escola, as revistas são utilizadas para pesquisa e colagens no aprendizado
de formação do alfabetizando; e nas creches são utilizadas para encontrar
figuras relativas ao planejamento utilizado, como figuras de homens, mulheres e
crianças no trabalho de identidade e também as cores utilizadas nos projetos;
entre outras.
Quando as escolas assinam periódicas, devem
explicar e ao mesmo tempo conscientizar os alunos que o uso coletivo exige que
tomem cuidado com eles, pois somente uma coleção completa permite compreender
as histórias em quadrinhos que tem continuação no número seguinte, ou recorrer
a velhos números para encontrar um documento ou uma investigação. Esse trabalho
de conscientização pode ser feito com todos os alunos, mas na creche, a
intervenção e os pedidos por cuidados devem ser feitos de uma maneira mais
sutil; pois as crianças estão construindo a compreensão do valor desses
exemplares.
Outro gênero literário que
mexe com a cabeça das crianças é o gibi; esse gênero colorido, ilustrado e
cheio de recursos gráficos estimula as turmas de educação infantil.. As
publicações são baratas e acessíveis, o que pode favorecer a compra de vários
exemplares da mesma edição para distribuir na sala.
Com isso as crianças podem
acompanhar a leitura em voz alta pelo professor, é mais uma estratégia para a
criança tomar gosto pela leitura. Foi-se o tempo em que os gibis eram proibidos
na sala de aula e as crianças tinham de escondê-los sob a carteira.
Os
quadrinhos são uma excelente opção para incentivar a leitura e despertar a
atenção para quem está entrando no mundo das letras e da literatura. A
começar pelos personagens, que, por si só, são atraentes para a garotada. Eles
despertam interesse por serem bem conhecidos, afinal estão presentes em
brinquedos, jogos, roupas, embalagens, peças de teatro e desenhos na televisão.
Sem contar que os protagonistas passam por situações parecidas com as de seus
leitores; vão à escola e ao parque, tem pesadelos e medo de dentista. Isso
promove a identidade e a familiaridades entre eles.
O grande trunfo são os
recursos gráficos. As imagens aparecem associadas a textos coloquiais e
permitem que as crianças antecipem o enredo e atribua sentido à história, mesmo
sem saber ler. As onomatopéias como “ploft” e “grrr”, também são importantes
para facilitar a compreensão de diversas situações e emoções.
O mesmo vale para os balões
só de olhar é possível saber se um personagem está pensando, gritando ou
conversando; este recurso foi utilizado na turma de 3 anoscom a professora
Silvana para trabalhar as expressões no projeto de identidade.
O projeto foi iniciado com a
professora mostrando diferentes expressões dos personagens da turma da Mônica
como: alegria, medo, espanto e raiva; logo em seguida a professora pediu que
cada um tentasse demonstrar as mesmas expressões dos personagens.
Os alunos foram
fotografados, e as fotos coladas no mural da sala de aula; para que pudessem
observar e reconhecer cada colega da turma e também as diferentes expressões.
As crianças acharam tudo muito divertido; as fotos foram mantidas por três semanas.O
projeto foi iniciado na rodinha de conversa.
A
literatura e os estágios psicológicos da criança Não há como falar em estágios
psicológicos da criança; sem falar do pesquisador, psicólogo e biólogo suíço
Jean Piaget.
Existem várias teorias do
desenvolvimento humano em psicologia. Mas Jean Piaget se destaca pela sua
produção contínua de pesquisas, pelo rigor científico de sua produção teórica e
pelas implicações práticas de sua teoria principalmente no campo da educação.
A teoria deste cientista é a
referência, para compreendermos o desenvolvimento humano e, principalmente para
nos esclarecer que a criança não é um adulto em miniatura; ao contrário,
apresenta características próprias da sua idade.
Compreender isso é compreender a importância
do estudo do desenvolvimento humano. Estudos e pesquisas de Piaget demonstraram
que existem formas de perceber, compreender e se comportar diante do mundo,
próprias de cada faixa etária, isto é, existe uma assimilação progressiva do
meio ambiente, que implica uma acomodação das estruturas mentais a este novo
dado do mundo exterior.
Todos os aspectos levantados pelo estudo do
desenvolvimento humano tem importância para a educação. Planejar o que e como
ensinar implica saber quem é o educando. Por exemplo, a linguagem e os recursos
que usamos com uma criança de 3 anos não são os mesmos que usamos com jovem de
13 anos.
A literatura aliada aos
estágios psicológicos. Segundo Piaget, cada período é caracterizado por aquilo
que de melhor o indivíduo consegue fazer nessas faixas etárias.
Todos os indivíduos passam
por todas essas fases ou períodos, nessa seqüência, porém o início e o término
de cada uma delas dependem das características.biológicas do indivíduo e de
fatores educacionais, sociais. Portanto, a divisão nessa faixa etária e o
interesse pela literatura são uma referência e não uma norma rígida.
O
pré-leitor e o período sensório motor
É a chamada fase da
“invenção da mão”, pois seu impulso básico é pegar em tudo que se acha ao seu
alcance. Para estimular tal impulso natural; as gravuras de animais, ou objetos
familiares à criança, devem ser incluídos entre os seus brinquedos (bichos de
pelúcia ou qualquer material macio e fofo; chocalhos musicais, etc...).
Tais gravuras desenhos ou ilustrações podem
ser folhas soltas ou em álbuns, feitos de material resistentes e agradável ao
tato ( pano, plásticos, papel grosso...) A criança nesta idade ainda não se
prende à história, que deve ser composta de frases soltas, com vocabulário
simples e assuntos presentes na realidade da criança, de preferência
improvisadas. O que prenderá a atenção da criança é o movimento, o tom de voz,
o colorido.
Neste período, a criança conquista, através da
percepção e dos movimentos, todo o universo que o cerca; o crescimento
intelectual é evidente nas ações motoras e sensórias das crianças. O
importante, nesta fase, é essencialmente a atuação do adulto, manipulando e
nomeando os brinquedos ou desenhos; inventando situações bem simples que os
relacionem afetivamente com a criança, etc...
É nesta fase que o mundo
natural e o mundo cultural ( o da linguagem nomeadora ) começam a se relacionar
na percepção que a criança começa a ter do espaço global em que vive. È também
o momento em que a criança inicia a conquista da própria linguagem e passa a nomear
as realidades à sua volta.
Segunda infância ou período
pré-operatório Em casa ou no “jardim” (ou prézinho), a presença do adulto é
fundamental, quanto à sua orientação para a brincadeira com o LIVRO.
Aprofunda-se descoberta a do mundo concreto e do mundo da linguagem, através
das atividades lúdicas.
Como decorrência do
aparecimento da linguagem, o desenvolvimento do pensamento se acelera. Tudo o
que acontece ao redor da criança é, para ela, muito importante e significativo.
Os livros adequados a essa fase devem propor vivências radicadas no cotidiano
familiar da criança e apresentar determinadas características estilísticas.
● Predomínio absoluto da
imagem ( gravuras, ilustrações, desenhos, etc...) sem texto escrito ou com
textos brevíssimos, que podem ser lidos ou dramatizados pelo adulto, a fim de
que a criança comece a perceber a inter-relação existente entre o mundo real
que a cerca e o mundo da palavra que nomeia esse real. É a nomeação das coisas
que leva a criança a um convívio inteligente, afetivo e profundo com a
realidade circundante.Histórias ainda curtas e rápidas, com poucos detalhes e
poucos personagens são indicadas para esta idade. A criança vive a história
como se fosse real.
● As imagens devem sugerir
uma situação ( um acontecimento, um fato, etc...) que seja significativo para a
criança ou que seja de alguma forma atraente.
● Desenhos ou pinturas,
coloridas ou em preto e branco, em traços ou linhas nítidas ou em massas de cor
que sejam simples e de fácil comunicação visual. As histórias vão sendo aos
poucos mais elaboradas, com maior riqueza de vocabulário, porém, ainda simples
e fáceis de serem compreendidas. A criança nesta fase assusta-se com facilidade
por ainda não separar completamente a realidade da fantasia e por estar experimentando
a “fase do medo”, o que é natural. Por isso, é importante tomar cuidado com o
tom de voz, personagens malvados, etc..
A linguagem e a lingüística
A aprendizagem da linguagem oral e escrita é um dos elementos importantes para
as crianças ampliarem suas possibilidades de inserção e de participação nas
diversas práticas sociais.
O trabalho com a linguagem se constitui um dos
eixos básicos na educação infantil, dada sua importância para a formação do
sujeito, para interação com outras pessoas, na orientação das ações das
crianças, na construção de muitos conhecimentos e ao desenvolvimento do
pensamento. Aprender uma língua não é somente aprender palavras, mas também os
seus significados culturais, e, com eles, os modos pelos quais as pessoas do
seu meio sociocultural entendem, interpretam e representam a
realidade.(RECNEI,1998,v.3,p.119) É através da linguagem, que a criança se
comunica e se insere no meio social, podendo assim expressar seus sentimentos e
manifestar seus desejos.
O trabalho com a linguagem é
fundamental na educação infantil porque é através dele que as crianças
amadurecem seus pensamentos. Neste trabalho vão sendo ampliadas as capacidades
de comunicação e expressão e conseqüentemente a inserção no mundo letrado. O
diálogo é na sua essência sociocontrucionista, e está marcado por elementos
culturais, raciais e institucionais; é a linguagem que constitui o diálogo e é
o principal veículo de comunicação entre os seres humanos. Juntos, linguagem e
diálogo formam a construção do homem, já que nenhum ser se constrói sozinho e
isoladamente. A linguagem e o pensamento humano tem origem social.
A cultura faz parte do
desenvolvimento; quando o homem constitui, atua e transforma sobre a natureza
com sua atividade e seus instrumentos para modificar essa cultura.
O indivíduo é constituído ao
longo a partir da sua intervenção no meio (sua atividade instrumental) e da
relação com outros homens; que é feita principalmente através da linguagem e
conseqüentemente através do diálogo. O homem constrói sua existência a partir
de uma ação sobre a realidade, que tem, por objetivo, satisfazer suas
necessidades. Mas essa ação e essas necessidades têm uma característica
fundamental; são sociais e produzidas historicamente em sociedade. As
necessidades básicas do homem não são apenas biológicas; elas ao surgirem, são
imediatamente socializadas, e a partir disso o homem necessita imediatamente do seu principal veículo de
comunicação: a linguagem Nas palavras da psicolinguista Emilia Ferreiro, A
leitura é um momento mágico, pois o interpretante informa à criança, ao efetuar
essa aparentemente banal, que chamamos de “um ato de leitura”, que essas marcas
tem poderes especiais; basta olhá-las para produzir linguagem”.1999 p. 175 .
A linguagem oral está
presente no cotidiano e na prática das instituições de educação infantil à
medida que todos que dela participam: crianças e adultos, falam, se comunicam
entre si, expressando sentimentos e idéias. Sendo a linguagem, o principal
veículo de comunicação na educação infantil, ela precisa estar presente
cotidianamente na vida da criança.
A maneira como as diversas
instituições vão trabalhar essa linguagem é própria de cada uma, e a maioria
tem maneiras diferentes de ensinar, de acordo com seus critérios, culturas e
valores. Algumas instituições consideram a linguagem como um processo natural e
biológico e por isso mesmo as atividades direcionadas ao ensino da linguagem
são planejadas, de modo que venha facilitar essa aprendizagem. Em outras
instituições acredita-se que a linguagem se desenvolve de acordo com a
intervenção do adulto, a aprendizagem é realizada através de listas de
palavras, esse processo é cumulativo e a complexidade cresce gradativamente.
Neste processo, o silêncio e a homogeneidade imperam. Eliminam a farta
movimentação de gestos e as falas simultâneas, tão comuns no processo de
desenvolvimento e comunicação das crianças. Nessa perspectiva a linguagem é
considerada apenas como um conjunto de palavras para nomeação de objetos,
pessoas e ações. Um hábito muito comum nas instituições ao trabalhar a
linguagem é a realização da roda, onde as crianças falam do seu cotidiano e
expressam seus desejos somente quando são perguntadas, e as respostas tem que
ser emitidas em coro. Esse hábito só e válido quando a criança pode se expressar
livremente, e não ser chamada só nos momentos em que o adulto quer lhe ouvir.
Quando a prática da roda é
realizada dessa maneira, a linguagem deixa de ser centralizada no adulto e
passa a ser direcionada à criança e ao seu universo. O professor de Educação
Infantil pode utilizar a roda para ouvir as histórias das crianças e também
para contar histórias da literatura infantil. Quando é permitido à criança
participar nessas situações, ela desenvolve a maneira de se expressar, de
participar e de ouvir o colega.
Cada criança tem seu ritmo
próprio e a conquista de suas capacidades lingüísticas se dá em tempo
diferenciado, e o falar corretamente e a capacidade de produzir frases depende
da participação contínua em atos de linguagem.Como demonstra a pesquisa feita
com a professora Juliana na turma 2 “A” de 02 anos de idade no CEMEI Carmem
Montes Paixão.
As histórias são contadas todos os dias e nem
sempre fazem parte do planejamento, são contadas apenas para diversão e lazer.
Em alguns momentos durante a contação de histórias as crianças interrompem com
assuntos que não tem muito a ver com a história; a professora responde e tenta
chamar novamente a atenção para a literatura, em outros momentos ela aproveita
as intervenções e viaja na imaginação deles.
A professora não costuma
abrir espaços para que os alunos produzam suas próprias histórias a partir do
que foi lido, e acredita que por se tratar de crianças de 2 anos de idade,
mesmo quando são estimulados muitos não conseguem, tendo em vista que é o
primeiro ano que estão tendo contato com a escola. Na turma de 2 anos A, as
professoras costumam utilizar outros recursos e mecanismos para estimular a
contação de histórias como fantoches, máscaras e dramatização, e o tipo de
história que mais atrai as crianças desta turma são os contos de fada. Na turma
de 3 anos B, que atende a faixa etária de 3 anos; as histórias são contadas
todos os dias e geralmente duas vezes ao dia, onde qualquer gravura ou livro
costuma virar uma história
. Por se tratar de uma turma
onde a literatura é bastante utilizada, ora fazem parte do planejamento, ora
são contadas para diversão e lazer. As professoras sempre permitem as
intervenções, ouvindo seus comentários, reforçando e fazendo perguntas. Os
espaços são sempre abertos para que os alunos produzam suas próprias histórias
a partir do que foi lido e na maioria das vezes a professora pede que eles
recontem as histórias; as crianças são estimuladas o tempo todo, elas produzem
histórias quando brincam ou quando encontram um livro, e alguns se organizam em
grupos para que um amigo conte a história.
As professoras já fizeram
várias tentativas de contar histórias sem os livros, mas o maior interesse é de
fato pelos livros e suas ilustrações e o tipo de história que mais agrada a
esta turma tanto quanto as outras são os contos de fadas. Para que a ampliação
da capacidade de comunicação oral se desenvolva, é fundamental a participação
da criança, tanto nas conversas do cotidiano, quanto a participação e o contato
na linguagem escrita, permitir que as crianças participem da linguagem escrita,
é facilitar a sua intervenção no mundo letrado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante a realização deste trabalho, podemos
perceber que todos nós temos uma história; e que a história de nossas vidas,
daria um livro ou um escrito, todo nós estamos envolvidos no mundo das
histórias desde o ventre materno.
Aprendemos que ouvir e
contar história é significativo; deve fazer parte da nossa cultura, e existe
profissionais de educação engajados nessa luta para que isso não desapareça.
Podemos observar também, que a vida oferece milhares de opções e oportunidades
de lazer para as crianças, e que algumas vezes afastam-nas do mundo da leitura
e da imaginação, e alguns pais não se dão conta desse afastamento.
Com a aprendizagem escolar,
a exigência de especialização e a disputa no mercado de trabalho, pais com
poder aquisitivo melhor, se preocupam com a formação dos filhos e a melhoria da
qualidade de suas vidas, não sobrando muito tempo para desfrutar momentos
prazerosos com os mesmos, e para mantê-los ocupados investem em outros meios de
diversão.
Quando a criança, deixa de fazer parte da vida
social do adulto, ela conseqüentemente deixa de ouvir as historias e
experiências que o adulto pode lhe passar; e não ouvir histórias implica em não
saber futuramente contar histórias.
Através do trabalho sobre
literatura infantil na creche; formando alunos leitores/escritores, foi
possível descobrir a origem da literatura infantil, sua trajetória, seu
encanto, seus autores.
Esse trabalho proporcionou
descobertas como um pouco da história do maior autor de literatura infantil
brasileira, e as pessoas que até hoje se propõem escrever e contar histórias
para crianças. No trabalho sobre literatura infantil, foi possível descobrir
que as crianças gostam de ouvir as histórias ainda no berço e enquanto usam
fraldas, porque através dessas histórias o bebê aprende a linguagem de maneira
mais rápida, tendo o adulto ou a pessoa que lhe conta a história como modelo; e
que também são capazes de produzir suas próprias histórias bastando lhes
oferecer o material escrito enriquecido com gravuras e ilustrações coloridas.
O trabalho também foi
importante no momento em que, podemos descobrir que existe uma literatura
adequada a cada faixa etária e que o interesse pela literatura está associado
ao nível de desenvolvimento psicológico da criança.
Que mais do que tentar apenas despertar o
interesse da criança pela literatura, os adultos tem um papel importante no
universo dos leitores; como o papel desenvolvido pelo contador de histórias.
Toda criança necessita de um contador de histórias, seja em casa, na escola, no
teatro ou nas tendas, Esse adulto pode despertar não só o interesse pela
literatura, mas também estimular as crianças a aprenderem a ouvir e contar
histórias e acima de tudo aprenderem a interpretar e produzir.
Quando esse trabalho é
enfatizado na infância, a criança consegue mais tarde interpretar e produzir
outros tipos de literatura, facilitando a vida na escola, no trabalho e na
vida. A Literatura infantil influi em todos os aspectos da formação do ser
humano, não só na educação, mas também nas áreas vitais como inteligência e
afetividade; através da literatura pode-se promover na criança até mesmo
mudanças de comportamento, de hábitos e atitudes. O incentivo à literatura pode
partir de casa, esse papel pode ser desenvolvido por pais, irmãos mais velhos e
avós.
Deixar os pequenos
manusearem livros, jornais e revistas é um bom começo, permitir que eles
peguem, cheirem, procure ilustrações mais engraçadas, volte ao pedaço da
história mais interessante, peça para reler a história que mais o agradou, e
principalmente, que tenha esse contato efetivo com os livros.Tudo isso é a
melhor maneira de despertar crianças leitoras.
O trabalho também
demonstrou, que a criança que chega na escola, e esse hábito ainda não foi
despertado no aluno, não é um fim, é apenas o início de uma experiência para o
professor, e que ele pode iniciar esse processo de formação do leitor, com
compreensão, dedicação, criatividade e acima de tudo, com respeito pelo aluno e
pelo seu universo, onde não lhe foi proporcionado caminhos para o maravilhoso
mundo das palavras escritas.
Através desse trabalho
também foi possível descobrir, quantas atividades podem ser desenvolvidas
através da literatura, e quantas maneiras diferentes pode se trabalhar a
literatura infantil. Cabe ao professor, pais, e contadores de histórias de um
modo geral, trabalhar as diversas maneiras de atrair as crianças para o mundo
da literatura, seja no conto de fadas, na ficção científica, nas histórias de
terror, nas Tendas Que Contam Histórias ou na história de Branca de Neve
passada em Quixeramobim.
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