
UNIVERSIDADE
ANHANGUERA – UNIDERP
Centro
de Educação a Distância
OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Sobradinho/DF
Junho/2014
INTRODUÇÃO
Educação
Inclusiva aponta para a transformação da sociedade e trata-se de um processo em
que se amplia a participação de todos os estudantes nos estabelecimentos de
ensino regular.
A
inclusão perpassa pelas várias dimensões humanas, sociais e políticas, e vem
gradualmente se expandindo na sociedade contemporânea de forma a auxiliar no
desenvolvimento das pessoas em geral de maneira a contribuir para a
reestruturação de práticas e ações cada vez mais inclusivas e seus
preconceitos.
Trata-se
de uma reestruturação da cultura, da prática e das políticas vivenciadas nas
escolas de modo que estas respondam à diversidade dos alunos. É uma abordagem
humanística, democrática, que percebe o sujeito e suas singularidades, tendo
como objetivos o crescimento, a satisfação pessoal e a inserção social de
todos.
Para
fazer a inclusão de verdade e garantir a aprendizagem de todos os alunos na
escola regular é preciso fortalecer a formação dos professores e criar uma boa
rede de apoio entre alunos, docentes, gestores escolares, famílias e
profissionais de saúde que atendam as crianças com necessidades educacionais
especiais.
INCLUSÃO NO BRASIL E EDUCAÇÃO ESPECIAL
NA ESCOLA REGULAR
Até
o início da século XXI, o sistema educacional brasileiro abrigava dois tipos de
serviços: a escola regular e a
escola especial. Na última
década, nosso sistema escolar modificou-se com a postura inclusiva e seu único
tipo de escola foi adotado: a regular, que acolhe todos os alunos, apresenta
meios e recursos adequados e deve oferecer apoio àqueles que encontram
barreiras para a aprendizagem. Educar todas as crianças em um mesmo contato
escolar não é negar diferenças, mas ver as diferenças como diversidade e
ampliar a visão de mundo para uma visão colaborativa e inclusiva.
“O
processo de educação inclusiva visa equiparar oportunidades, garantindo-se a
todos,inclusive às pessoas em situação de deficiência e os de altas
habilidades/superdotados, o direito de aprender” (Carvalho, 2005)
EDUCAÇÃO ESPECIAL INCLUSIVA
O que garante o sucesso da educação
especial inclusiva
É
a nossa capacidade de entender e reconhecer o outro e, assim, ter o privilégio
de conviver e compartilhar com pessoas diferentes de nós. A educação inclusiva
acolhe a todas as pessoas, sem exceção. É para o estudante com deficiência
física, para os que têm comprometimento mental, para os superdotados, para todas
as minorias e para a criança que é discriminada por qualquer outro motivo.
Costumo
dizer que estar junto é se aglomerar no cinema, no ônibus e até na sala de aula
com pessoas que não conhecemos. Já inclusão é estar com, é interagir com o
outro.
A
escola tem que ser o reflexo da vida do lado de fora. O grande ganho, para
todos, é viver a experiência da diferença. Se os estudantes não passam por isso
na infância, mais tarde terão muita dificuldade de vencer os preconceitos. É o
que diz Daniela Alonso, educadora e consultora de projetos educacionais e,
ganhadora do Prêmio Educador Nota 10.
A
inclusão possibilita aos que são discriminados pela deficiência, pela classe
social ou pela cor que, por direito, ocupem o seu espaço na sociedade. Se isso
ocorrer, essas pessoas serão sempre dependentes e terão uma vida cidadã pela
metade.
“Você
não pode ter um lugar no mundo sem considerar o do outro, valorizando o que ele
é e o que ele pode ser. Além disso, para nós, professores, o maior ganho está
em garantir a todos o direito à educação.” É o que diz (Mendes, 2012).
Um
bom projeto pedagógico, que começa pela reflexão. Diferentemente do que muitos
possam pensar, inclusão é mais do que ter rampas e banheiros adaptados.
A
equipe da escola inclusiva deve discutir o motivo de tanta repetência e
indisciplina, de os professores não darem conta do recado e de os pais não
participarem.
Atualmente,
muitas escolas diversificam o programa, mas esperam que no fim das contas todos
tenham os mesmos resultados. Os alunos precisam de liberdade para aprender do
seu modo, de acordo com as suas condições. E isso vale para os estudantes com
deficiência ou não.
Há
outra questão, um movimento de resistência que tenta impedir a inclusão de
caminhar: a força corporativa de instituições especializadas, principalmente em
deficiência mental.
Muita
gente continua acreditando que o melhor é excluir, manter as crianças em
escolas especiais, que dão ensino adaptado. Más já avançamos. Hoje todo mundo
sabe que elas tem direito de ir para a escola regular.
“Além
de fazer adaptações físicas. A escola precisa oferecer atendimento educacional
especializado paralelamente às aulas regulares, de preferência no mesmo local.
Assim, uma criança cega, por exemplo, assiste às aulas com os colegas que
enxergam e, no contra turno, treina mobilidade, locomoção, uso da linguagem
braile e de instrumentos como o soroban, para fazer contas. Tudo isso ajuda na
sua integração dentro e fora da escola.”(Blanco, 2009)
Enquanto
isso, a direção tem que continuar exigindo dos dirigentes o apoio previsto em
lei. Na particular, o serviço especializado também pode vir por meio de
parcerias e deve ser oferecido sem ônus para os pais. Estudantes com
deficiência mental severa podem estudar em uma classe regular?
De
acordo com a Declaração de Salamanca, 1994: “Sem dúvida. A inclusão não admite
qualquer tipo de discriminação, e os mais excluídos sempre são os que têm
deficiências graves”.
No
Canadá, vi um garoto que ia de maca para a escola e, apesar do raciocínio
comprometido, era respeitado pelos colegas, integrado à turma e participativo.
Há
casos, no entanto, em que a criança não consegue interagir porque está em surto
e precisa ser tratada. Para que o professor saiba o momento adequado de
encaminhá-la a um tratamento, é importante manter vínculos com os atendimentos
clínico e especializado.
Uma
boa avaliação é aquela planejada para todos, em que o aluno aprende a analisar
a sua produção de forma crítica e autônoma. Ele deve dizer o que aprendeu o que
acha interessante estudar e como o conhecimento adquirido modifica a sua vida.
“Avaliar
estudantes emancipados é, por exemplo, pedir para que eles próprios inventem
uma prova. Assim, mostram o quanto assimilaram um conteúdo. Aplicar testes com
consulta também é muito mais produtivo do que cobrar decoreba. A função da
avaliação não é medir se a criança chegou a um determinado ponto, mas se ela
cresceu. Esse mérito vem do esforço pessoal para vencer as suas limitações, e
não da comparação com os demais”. (Blanco, 2009)
O
papel do professor é ser regente de classe, e não especialista em deficiência.
Essa responsabilidade é da equipe de atendimento especializado. Não pode haver
confusão. Uma criança surda, por exemplo, aprende com o especialista em libras
(língua brasileira de sinais) e leitura labial.
“Para
ser alfabetizada em língua portuguesa para surdos, conhecida como L2, a criança
é atendida por um professor de língua portuguesa capacitado para isso. A função
do regente é trabalhar os conteúdos, mas as parcerias entre os profissionais
são muito produtivas. Se na turma há uma criança surda e o professor regente
vai dar aula sobre o Egito, o especialista mostrará à criança com antecedência
fotos, gravuras e vídeos sobre o assunto. O professor de L2 dá o significado de
novos vocábulos, como pirâmide e faraó. Na hora da aula, o material de apoio
visual, textos e leitura labial, facilitam a compreensão do conteúdo”. (CNB/CNE,
2009)
Como ensinar cegos e surdos sem dominar
o braile e a língua de sinais
É
até positivo que o professor de uma criança surda não saiba libras.Ter noções
de libras facilita a comunicação, mas não é essencial para a aula.
No
caso de ter um cego na turma, o professor não precisa dominar o braile, porque
quem escreve é o aluno. Ele pode até aprender, se achar que precisa para
corrigir textos, mas há a opção de pedir ajuda ao especialista.
O professor não pode se recusar a
lecionar para turmas inclusivas
Não,
mesmo que a escola não ofereça estrutura. “As redes de ensino não estão dando
às escolas e aos professores o que é necessário para um bom trabalho. Muitos
evitam reclamar por medo de perder o emprego ou sofrer perseguição. Mas eles
tem que recorrer à ajuda que está disponível, o sindicato, por exemplo, onde
legalmente expõem como estão sendo prejudicados profissionalmente”. (Mendes,
2012)
Os
pais e os líderes comunitários também podem promover um diálogo com as redes,
fazendo pressão para o cumprimento da lei. Há fiscalização para garantir que as
escolas sejam inclusivas?
O
Ministério Público fiscaliza, geralmente com base em denúncias, para garantir o
cumprimento da lei. O Ministério da Educação, por meio da Secretaria d Educação
Especial, atualmente não tem como preocupação punir, mas levar as escolas a
entender o seu papel e a lei e a agir para colocar tudo isso em prática.
“A
educação especial na perspectiva inclusiva tem favorecido o acesso das crianças
com autismo à escola regular, contudo a presença dessas crianças causa um
estranhamento por parte dos professores e demais profissionais da educação
devido aos mitos existentes sobre o autismo infantil, as especificações na
linguagem e na interação social e o processo de aprendizado e desenvolvimento
dessas crianças. Com uma temática relevante, o livro promove a discussão sobre
as possibilidades construídas na organização do trabalho do professor no espaço
da educação infantil com uma criança com autismo e traz para o debate a
necessidade de ressignificar as concepções sobre autismo infantil, infância,
educação infantil, educação inclusiva e ser professor em um contexto inclusivo.
A obra pretende contribuir nas reflexões sobre o processo de inclusão e
escolarização da criança com autismo, reconhecendo essa criança como ser
social, que se constitui, aprende e se desenvolve nas condições concretas de
vida, a partir das relações e interações que lhes são possibilitadas e das
práticas culturais em que é inserida”. (Alonso, Daniela)
“As
novas demandas educacionais, aliadas ao ideal de oferecer uma educação que
articule excelência acadêmica e formação de valores, exigem uma formação
diferenciada, muito mais complexa e redimensionada, daqueles que lideram o
processo educativo nas escolas: os Coordenadores Pedagógicos. Evidencia-se,
cada vez mais, o papel crucial e estratégico desses profissionais na
qualificação da prática educativa e na condução doa atores da ação pedagógica,
especialmente quando o contexto demanda o desenvolvimento de uma metodologia
adequada às concepções educativas contemporâneas, ao processo de
desenvolvimento e aprendizagem dos educandos e à sua formação ética”. (MEC/SEES
P. Out., 2005)
Avaliação em larga escala para Rede de
Ensino RCE
Para
que as escolas realizem uma avaliação em larga escala, de modo que possam
compreender o nível de aprendizado dos alunos e caminhar para atingir a
excelência acadêmica, a Rede de Ensino RCE oferece o PROARCE. Esta é uma
ferramenta de natureza sistêmica, diagnóstica, de aferição de habilidades
cognitivas e de conhecimento, sem nenhum custo para as escolas ligadas à RCE e
que pode ser contratada por qualquer instituição de ensino.
O
PROARCE é aplicado anualmente em mais de 350 escolas, englobando mais de 200
mil alunos.
As
avaliações do PROARCE são aplicadas no 5º e 9º ano do ensino fundamental e 3º
ano do ensino fundamental são focadas nos testes de conhecimento em língua portuguesa,
matemática, ciências humanas e ciências da natureza.
A
partir do resultado das provas, o gestor educacional pode compreender com mais
precisão o processo educativo e, a partir daí, tomar decisões práticas,
alocando recursos onde é realmente necessário ou consolidando avanços
identificados na avaliação. (Fonte: PCN-MEC/SEFISEESP, 1998)
Saberes e práticas da inclusão-Educação
infantil
A
educação e os cuidados na infância são amplamente reconhecidos como fatores
fundamentais do desenvolvimento global da criança. Esta coleção traz temas
específicos sobre o atendimento às necessidades educacionais especiais das
crianças, do nascimento aos seis anos de idade.
Entrevista
O que significa inclusão?
Eu
só posso falar em inclusão se considerar o seu oposto, que é a exclusão. É
preciso perguntar quem é excluído e do que é excluído – afinal, às vezes é bom
ser excluído de algumas coisas, como da doença ou da miséria. No caso da
educação, que obviamente é uma coisa boa, é bom que se inclua. Trata-se de incluir
todos dentro de um espaço considerado imprescindível para o desenvolvimento
pessoal e da cidadania.
Gostaria que o senhor descrevesse
brevemente a evolução da educação inclusiva no Brasil e no mundo.
A
questão da deficiência nem sempre foi tratada no mundo como é hoje. Ela já
percorreu caminhos bastante rudes, bárbaros até. Sabemos de comunidades
primitivas e modernas que praticaram a chamada limpeza étnica, em que matavam
crianças que nascessem com determinados defeitos. Foi só no final do século XIX
que a forma de ver o deficiente começou a mudar, quando os trabalhos de Freud
mostraram que todos nós temos limitações e quando a Biologia trouxe conclusões
similares, afirmando que todos nós temos necessidades e deficiências, apesar de
umas serem mais visíveis do que outras. As duas guerras mundiais, quando um
enorme número de pessoas que, então sadias, voltaram para casa com algum tipo
de mutilação, também contribuíram para aumentar a consciência de que os
portadores de necessidades especiais são titulares de direitos como quaisquer
outros.
Hoje,
considero que estamos vivendo um momento de transição de uma cultura
discriminatória com relação ao diferente para uma cultura de inclusão, em que o
diferente é aceito não por ser diverso, mas porque o diverso enriquece. É esse
o grande desafio atual: construir uma nova cultura de inclusão, na qual o
acolhimento da diferença se faça no reconhecimento do outro como igual, como
parceiro, como par. Na educação, isso implica a consciência de que, desde o ato
educativo mais simples da pré-escola, é preciso garantir aos portadores de
necessidades educacionais especiais um lugar garantido nas salas comuns das
classes comuns.
Quais os obstáculos que teremos de
superar para construir essa nova cultura nas escolas?
A
criação de uma nova cultura é um processo lento, que inclui uma série de
desafios. Um deles diz respeito às mudanças físicas e estruturais, que são
necessárias para permitir a inserção de alunos com necessidades especiais nas
salas e escolas regulares. Outra questão é sensibilizar as crianças dessas
escolas para a questão da inclusão. Um menino que é manco, cego ou tem algum
outro tipo de deficiência, pode ser objeto de chacota ou discriminação pelos
colegas. O terceiro desafio, e o mais importante deles, refere-se à
qualificação dos professores. Não adianta você colocar um
surdo em uma sala onde o professor, por mais boa vontade que tenha, não está
preparado para dominar a linguagem de sinais. E ainda são raros os que estão.
Temos que pensar numa preparação consciente, consequente, e rápida ao mesmo
tempo, dos educadores.
Como o professor pode obter esse
preparo?
Isso
deveria ser uma tarefa das escolas de educação. A Universidade tem por
obrigação dominar o que existe de mais avançado sobre esse assunto e, com isso,
criar uma geração de professores preparados. Além disso, as Secretarias
Estaduais e o MEC tem a obrigação de propiciar aos professores que já estão em
exercício uma atualização. Trata-se de um trabalho sofisticado, difícil, mas
muito estimulante e desafiador.
Quais os instrumentos legais que existem
hoje no país voltados à educação inclusiva?
Citarei
os mais importantes. O primeiro é a Constituição Federal, artigo 208, inciso
terceiro, que postula que crianças com necessidades especiais sejam atendidas
preferencialmente por escolas regulares. Depois, temos a lei de diretrizes e
bases, que tipifica melhor o princípio genérico da Constituição, o plano
nacional de educação e a declaração da Guatemala (aprovado em 2001, o texto da
“Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação
Contra as Pessoas Portadoras de Deficiência”, cujas recomendações se tornaram
lei de caráter nacional no Brasil). Temos ainda, a interpretação a esses quatro
instrumentos legais de grande porte dada pelo Conselho Nacional de Educação por
meio de dois pareceres ( 17/2001 e 4/2002) e de uma Resolução (2/2001). São
estes últimos que chegam mais próximos das escolas, já que traduzem os quatro
grandes equipamentos legais. (CCNE/CER nº 13/2009).
Qual a vantagem da educação inclusive em
relação à educação em salas ou especiais?
A
riqueza da diversidade. Eutive uma parente com síndrome de Down. Ela era o pivô
da família em termos de afetividade, de sensibilidade, de emotividade, de
memória. Com a diversidade, um grupo ganha novos valores. Há um jogo, que ainda
não sabemos fazer muito bem, mas temos que aprender, que é conviver com a
diferença. Mais do que tolerar, que é muito pouco, ele implica a aceitação do
diferente como algo que agrega.
Quais os defeitos negativos que podem
existir quando um aluno com necessidades especiais é incluído numa sala de aula
regular sem ser efetivamente integrado?
O
risco que existe aí é termos uma exclusão sofisticada com capa de inclusão.
Isso significaria legitimar a exclusão camuflando-a atrás do conceito de
inclusão. Dessa forma, exclui-se duplamente, somando à exclusão uma versão mais
sofisticada dela mesma.
Alunos com deficiência severa devem ser
incluídos em salas regulares?
Como
disse há pouco a Constituição fala que as crianças com necessidade educacionais
especiais deve ser atendidas preferencialmente nas escolas regulares. A palavra
preferencialmente estáaí exatamente porque considera os casos de portadores de
síndromes múltiplas e profundas. Nestes casos, há a possibilidade de haver o
que eu chamo de momentos especiais, em salas especiais, e escolas especiais
para um atendimento mais cuidadoso para aqueles que requerem atenção mais
específica. Meu filho teve dificuldades em matemática e teve de fazer uma
recuperação paralela. Eu não me sentí ofendido porque a escola propiciou a ele
um momento especial de recuperação separado dos colegas. Esse momento de
recuperação serve para coloca-lo em pé de igualdade com os outros, não para
mantê-lo na diferença. O mesmo acontece com os portadores de alguma
deficiência. Quando houver uma situação evidente que justifique um momento de
separação, ele deve ser feito sim, com todos os cuidados. Mas deverá ser visto
sempre como algo complementar, e não como uma situação permanente. (MEC. 2001 –
PCN)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O
mundo gira, e nestas voltas, vai mudando, e nestas mudanças, ora drásticas ora
nem tanto, as pessoas vã também se envolvendo e convivendo com o novo, mesmo
que não se apercebam disso. Há, contudo, os mais sensíveis, os que estão de
prontidão, plugados nessas reviravoltas e que dão os primeiros gritos de
alarme, quando anteveem o novo, a necessidade do novo, a emergência do novo, a
urgência de adotá-lo, para não sucumbir a morte, à degradação do tempo, à
decrepitude da vida.
Esses
pioneiros – as sentinelas do mundo – estão sempre muito perto e não tem muitas
saídas para se esquivar do ataque frontal das novidades. São essas pessoas que
despontam nos diferentes âmbitos das atividades humanas e que num mesmo momento
começam a transgredir, a ultrapassar as fronteiras do conhecimento, dos
costumes, das artes, inaugurando um novo cenário para as manifestações e
atividades humanas, a qualquer custo, porque tem clareza do que estão propondo
e não conseguem se esquivar ou se defender da força das concepções atualizadas.
Ocorre
que, saibam ou não, estão sempre agindo, pensando, propondo, refazendo,
aprimorando, retificando, excluindo, ampliando segundo paradigmas.
Conforme
pensavam os gregos, os paradigmas podem ser definidos como modelos, exemplos
abstratos que se materializavam de modo imperfeito no mundo concreto. Podem
também ser entendidas, segundo uma concepção moderna, como um conjunto de
regras, normas, crenças, valores, princípios que são partilhados por um grupo
em um dado momento histórico e que norteiam o nosso comportamento, até entrarem
em crise, porque não nos satisfazem mais, não dão mais conta dos problemas que
temos que solucionar. Assim Thomas Kuhn, em sua obra A estrutura das Revoluções
Científicas e outros pensadores, como Edgar Morin, em O Paradigma Perdido: A
Natureza Humana definem paradigma.
Uma
crise de paradigma é uma crise de concepção, de visão de mundo e quando as
mudanças são mais radicais, temos as chamadas revoluções científicas. O período
em que se estabelecem as novas bases teóricas suscitadas pela mudança de
paradigmas é bastante difícil, pois caem por terra os fundamentos sobre os
quais a ciência se assentava, sem que fiquem de todo os pilares que a
sustentarão daí por diante.
Sendo
ou não uma mudança radical, toda crise de paradigma é cercada de muita
incerteza, de insegurança, mas também de muita liberdade e de ousadia para
buscar alternativas, outras formas de interpretação e de conhecimento que nos
sustente e nos norteie para realizar a mudança.
E
o que estamos vivendo no momento.
A
escola se entupiu do formalismo da racionalidade e cindiu-se em modalidades de
ensino, tipos de serviço, grades curriculares, burocracia. Uma ruptura de base
em sua estrutura organizacional, como propõe a inclusão, é uma saída para que a
escola possa fluir, novamente, espalhando sua ação formadora por todos os que
dela participam.
A
inclusão, portanto, implica mudança desse atual paradigma educacional, para que
se encaixe no mapa da educação escolar que estamos retraçando.
É
inegável que os velhos paradigmas da modernidade estão sendo contestados e que
o conhecimento, matéria-prima da educação escolar, está passando por uma
reinterpretação.
As
diferenças culturais, sociais, étnicas, religiosas de gênero, enfim, a
diversidade humana está sendo cada vez mais desvelada e destacada e é condição
imprescindível para se entender como aprendemos e como compreendemos o mundo e
nós mesmos.
Nosso
modelo educacional mostra há algum tempo sinais de esgotamento, e nesse vazio
de ideias, que acompanha a crise paradigmática, é que surge o momento oportuno
das transformações.
Um
novo paradigma do conhecimento está surgindo das interfaces e das novas
conexões que se formam entre saberes outrora isolados e partidos e dos
encontros da subjetividade humana com o cotidiano, o social, o cultural. Rede
cada vez mais complexa de relações, geradas pela velocidade das comunicações e
informações, estão rompendo as fronteiras das disciplinas e estabelecendo novos
marcos de compreensão entre as pessoas e do mundo em que vivemos.
Diante
dessas novidades, a escola não pode continuar ignorando o que acontece ao seu
redor nem anulando e marginalizando as diferenças nos processos pelos quais
forma e instrui os alunos. E muito menos desconhecer que aprender implica ser
capaz de expressar, dos mais variados modos, o que sabemos, implica representar
o mundo a partir de nossas origens, de nossos valores e sentimentos.
O
tecido da compreensão não se trama apenas com fios do conhecimento científico.
Como Santos (1995) nos aponta, a comunidade acadêmica não pode continuar a
pensar que só há um único modelo de cientificidade e uma única epistemologia e
que, no fundo, todo os resto é um saber vulgar, um senso comum que ela contesta
em todos os níveis de ensino e de produção do conhecimento. A ideia de que
nosso universo de conhecimentoé muito mais amplo do que aquele que cabe no
paradigma da ciência moderna traz a ciência para um campo de luta mais igual,
em que ela tem de reconhecer e se aproximar de outras formas de entendimento e
perder a posição hegemônica em que se mantém, ignorando o que foge aos seus
domínios.
A
exclusão escolar manifesta-se das mais diversas e perversas maneiras, e quase
sempre o que está em jogo é a ignorância do aluno diante dos padrões de
cientificidade do saber escolar. Ocorre que a escola se democratizou abrindo-se
a novos grupos sociais, mas não aos novos conhecimentos. Exclui, então, os que
ignoram o conhecimento que ela valoriza e, assim, entende que a democratização é
massificação de ensino e não cria possibilidade de diálogo entre diferentes
lugares epistemológicos, não se abre a novos conhecimentos que não couberam,
até então, dentro dela.
Portanto,
mas mudanças são fundamentais para a inclusão, mas exige esforço de todos
possibilitando que a escola possa ser vista como um ambiente de construção de
conhecimento, deixando de existir a discriminação de idade e capacidade. Para
isso, a educação, deverá ter um caráter amplo e complexo, favorecendo a
construção ao longo da vida, e todo aluno, independente das dificuldades,
poderá beneficiar-se dos programas educacionais, desde que sejam dadas as
oportunidades adequadas para o desenvolvimento de suas potencialidades. Isso
exige do professor uma mudança de postura além da redefinição de papéis que
possa assim favorecer o processo de inclusão.
Para
que a inclusão seja uma realidade, será necessário rever uma série de
barreiras, além da política e práticas pedagógicas e dos processos de
avaliação. É necessário conhecer o desenvolvimento humano e suas relações com o
processo de ensino aprendizagem, levando em conta como se dá este processo para
cada aluno. Devemos utilizar novas tecnologias e investir em capacitação,
atualização, sensibilização, envolvendo toda comunidade escolar. Focar na
formação profissional do professor, que é relevante para aprofundar as
discussões teóricas práticas, proporcionando subsídios com vistas à melhoria do
processo ensino aprendizagem.
Assessorar
o professor para resolução de problemas no cotidiano na sala de aula, criando
alternativas que possam beneficiar todos os alunos. Utilizar currículos e
metodologias flexíveis, levando em conta a singularidade de cada aluno,
respeitando seus interesses, suas ideias e desafios para novas situações.
Investir na proposta de diversificação de conteúdos e práticas que possam
melhorar as relações entre professor e alunos. Avaliar de forma continuada e
permanente, dando ênfase na qualidade de conhecimento e não na quantidade,
oportunizando a criatividade, a cooperação e a participação. Valorização maior
das metas e não dos obstáculos encontrados pelo caminho, priorizando as
questões pedagógicas e não apenas a questão biolágica, com expectativa de que
tudo será resolvido pela saúde.
Não
temos nenhuma proposta de inclusão que possa ser generalizada ou multiplicada,
pois ainda é incipiente, no entanto é de consenso que esse processo é de responsabilidade
de toda a sociedade e por tanto é preciso que a escola esteja aberta para a
escuta, favorecendo assim, as trocas para a construção do processo de inclusão
escolar.
Concluímos
que para o processo de inclusão escolar é preciso que haja uma transformação no
sistema de ensino que vem beneficiar toda e qualquer pessoa, levando em conta a
especificidade do sujeito e não mais as suas deficiências e limitações.
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Formação de Gestores e Educadores.
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